quarta-feira, 9 de setembro de 2009

UMA NOVA ERA DE LIBERTAÇÃO


Um admirável mundo novo, porventura global, há-de ver-se anunciado um dia destes apesar dos “Velhos do Restelo” ainda ocuparem os galhos, já secos, dos poderes.

Ocorre, neste momento, uma inelutável desintegração da ordem político-social em que assentámos o nosso quotidiano desde os finais da última Grande Guerra.

Tal como no fim da Idade Média os homens se libertaram de subordinações feudais, neste nosso tempo intui-se, mesmo que imperceptivelmente, uma outra, nova libertação relativamente, esta, aos totalitários poderes da finança e dos partidos com ela mancomunados.

Os indícios vêm um pouco de vários lados.

Do sistema judicial que começa a dar mostras de eficácia na luta contra a corrupção disseminada e dissimulada aos mais altos níveis da economia e do poder financeiro e político, ainda que muito longe, ainda, do que seria aceitável. Há que reconhecer, na verdade, que, apesar de inúmeras dificuldades, sobretudo de meios mas, também, de sensibilidade social, a Justiça tem vindo a ocupar espaços onde antes não penetrava, decerto por ineficácia mas, também, por virtude de subtis fronteiras que lhe eram erguidas por certos poderes clandestinos que lhe tolhiam a acção. Também a administração fiscal é, agora, menos contemporizadora com a fraude e a evasão fiscais, mesmo se ainda carente de mais acutilância e rigor.

Da sociedade civil que, activa ou passivamente, vai dando mostras de que não deixará incólumes os atropelos e as atrocidades que os políticos vão cometendo no desempenho das suas funções. A abstenção verificada em vários e recentes actos eleitorais é, apenas, uma das manifestações, ainda que passiva, da indignação cívica que muitos cidadãos hoje sentem. Mas, aqui e ali, organizações relacionadas com a economia social, com o comércio justo, o consumidor e, naturalmente, com questões ambientais, têm, também, sobressaído num mundo onde o monopólio dos partidos e da finança eram, antes, suseranos absolutos.

De movimentos políticos recentes, organizados em novos partidos políticos ou meras associações cívicas que convergem na defesa de causas e interesses que, por não renderem votos, foram pura e simplesmente ignorados pelos partidos tradicionais do sistema. Está a afirmar-se paulatinamente, na verdade, uma nova geração criativa, utilizadora de novas tecnologias de informação e comunicação, que já exprime a sua própria vontade sem a intermediação dos representantes do sistema político que temos. E o caminho é infinito nesta perspectiva.

Ora estes e outros indícios de “insubordinação”, porventura alicerçados ou provocados pela crise civilizacional e de cultura que atravessa o nosso tempo – e, inegavelmente, também, pela crise económica e financeira e suas consequências éticas, morais e sociais – anunciam uma era de libertação relativamente a um paradigma político que já é um cadáver adiado. Um admirável mundo novo, porventura global, há-de ver-se anunciado um dia destes apesar dos “Velhos do Restelo” ainda ocuparem os galhos, já secos, dos poderes.

Enquanto tudo isto acontece, o que ainda é dito e relevado na opinião comunicada e publicada refere-se ao mundo dos conflitos de interesses que afligem os que detêm o poder – e têm medo de o perder – e ao dos que o não tendo, a todo o custo procuram lá chegar. Mas nisto vai pouco, muito pouco, para a construção do nosso destino apesar da retórica de promessas que não têm faltado por todo o lado. Seria bom ter-se presente, no transe, aquele célebre discurso de Sir Winston Churchill, proferido na Câmara dos Comuns, em Londres, a 13 de Maio de 1940 “Apenas posso prometer-vos sangue, trabalho, lágrimas e suor. Temos diante de nós uma provação das mais graves. Temos pela frente muitos, muitos meses de combates e sofrimento”.É este o Portugal que nos interpela, mas para lhe responder não parece haver quem.

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