É a revolução – no
interior de cada cidadão – a única saída que ainda parece possível para viver
em liberdade e com dignidade.
Os
portugueses anseiam por uma mudança face aos tempos de insuportável austeridade,
de esterilidade e de medo que têm vivenciado, fartos de mistificação e de
retórica vazia de conteúdo. De propaganda.
Mudança
do pessoal político, novas ideias e melhores instituições. Planos de batalha e
espírito de conquista para a construção de um futuro melhor que o presente.
Não
haverá, porém, salvação individual numa tragédia colectiva. É imperioso
assumirmos a consciência desta inevitabilidade e, quanto mais tarde tal
acontecer, pior será.
Os
que nos governam detêm cada vez menos poder na sua acção dependentes que estão,
crescentemente, não só de erros do passado (escondidos convenientemente debaixo
do tapete) mas, mais, ainda, de condições que não têm como mudar, ou alterar
com uma varinha mágica – é o caso da evolução demográfica, da revolução nas
tecnologias, do poder da finança, do crescimento do desemprego, do incremento
da violência quer a nível nacional quer internacional, das mudanças climáticas
e suas consequências – e por aí fora (Cf. Jacques Attali, Devenir Soi, Fayard,
2014, p. 23).
Os
próprios Estados parecem estar em causa, com o seu fim já anunciado (Cf. John Micklethwait; Adrian Wooldridge, The Fourth Revolution: The Global Race to Reinvent the State, 2014).
A Europa, porventura o mundo todo e Portugal em
particular precisam de um choque de esperança. O marasmo presente do nosso
quotidiano não será vencido, ultrapassando, por uma qualquer lei ou “diktat”
político. Não vale a pena, pois, continuarmos a pedir tudo a um Estado cada vez
mais maltrapilho, sendo antes, tempo de cada um de nós se tornar o construtor
do seu próprio futuro. E, por aí, de uma nova e mais fraterna sociedade. Tempo,
também, de dizer não à arbitrariedade e à indignidade de muitos poderes que nos
sugam a vida.
É a revolução – no interior de cada cidadão – a
única saída que ainda parece possível para viver em liberdade e com dignidade.
Na família, no emprego, na actividade empresarial,
na acção social e cultural, no espaço público urge que cada um tome o destino
nas suas próprias mãos. Já basta de queixumes inconsequentes, de sermos meros
expectadores de uma época que não controlamos, de deixarmos aos outros a
escolha do nosso futuro, de assistir angustiados às consequências de actos de
abutres que não saem de cima das nossas vidas.
Parafraseando Jacques Attali (ob. cit., p. 177 ss.)
é imperioso que tomemos nas nossas mãos o nosso destino, que nos libertemo-nos
do conformismo das ideologias, de éticas e determinismos de qualquer natureza.
Que escutemos o nosso próprio eu interior. Que ousemos ter coragem para agir.
“Nada justifica resignar-se, aceitar os factos consumados, de apenas esperar do
outro a resposta a dificuldades pessoais. E, particularmente, de esperar dos
poderosos ou do Estado. A boa vida é uma vida onde nos procuramos continuamente,
onde nos encontramos mil vezes sucessivamente ou simultaneamente (…). Se está
desempregado, em vez de esperar uma proposta de trabalho, crie a sua própria
empresa; se é um trabalhador com um emprego precário, aborrecido ou alienante,
invente uma nova forma de fazer o seu trabalho, mais divertida e mais criativa,
ou deixe o seu trabalho para se formar e criar o seu. Se é empresário, não
espere pela diminuição dos impostos para investir ou contratar; e se é artista,
não espere por concursos públicos ou privados para criar. Se não gosta do que
está a consumir, oponha-se”.
Vamos a isto?