sexta-feira, 25 de setembro de 2009

DESEMPREGO E REALISMO

Governe quem governar, o futuro vai, mais dia menos dia, confrontar-nos
com a nossa real penúria em meios e condições materiais.


Até quando andaremos todos iludidos pensando que poderemos manter o nosso nível de vida actual?

Portugal está afundado numa grave crise financeira, que é, de resto, mundial, e arruinado na sua vetusta economia. De um lado, o excessivo peso do Estado e, do outro, a falta de competitividade marcam a crise do país que se concretiza, designadamente, numa taxa de desemprego desesperante. E que – não haja ilusões – se vai manter por muito tempo.

É curial lembrar, no transe, que este início do século XXI está marcado, em geral, pelo desemprego em massa, empresas sem trabalhadores, Estados exauridos e endividados para lá do que é sustentável tudo, mais tarde ou mais cedo, com possíveis convulsões sociais de consequências imprevisíveis.

O Direito do trabalho, nasceu com um fim proteccionista dos trabalhadores num certo quadro económico – e por causa dele – e por esse trilho tem seguido. Só que o tempo económico inicial evoluiu drasticamente nos nossos dias e continua a evoluir aceleradamente marcado pelos novos processos produtivos, avançadas técnicas de gestão e novas tecnologias em desenvolvimento imparável, tudo isso acompanhado, porém, por uma agravada estagnação do mercado do emprego e suas inevitáveis consequências.

Além disso, porém, relevam ainda na nossa actividade quotidiana – e com efeitos óbvios no nível de vida - a falta de valores generalizada, o desprezo da ética nos negócios e na vida, a falta de transparência, designadamente na vida pública, a informalidade que continua a campear na economia, a escassez de trabalho qualificado para a nova economia, ou o envelhecimento de população como realidade crescentemente preocupante.

Algumas das variáveis vindas de apontar não auguram um futuro feliz para quantos adoptaram a sociedade do consumismo desenfreado ou a sociedade do espectáculo improdutiva como destino. É por isso que, governe quem governar, o futuro vai, mais dia menos dia, confrontar-nos com a nossa real penúria em meios e condições materiais para se manterem os padrões de riqueza em que, apesar de tudo, actualmente muitos vivem.

Em tempos eleitorais este é um tema a pôr à margem. Mas o realismo político não pode ignorá-lo, até para que se vão preparando as estratégias correctas para vencer esta outra crise – estrutural e portuguesa – que se junta à global.

Voltando ao tema do desemprego, contraposto, agora, ao do nível de vida, há que reconhecer que a gravidade de esse nível de vida baixar generalizadamente não é comparável, em dramaticidade, ao elevado desemprego existente e futuro. É que o lugar de trabalho nas nossas sociedades ganhou ainda mais acutilância com as consequências, para o emprego, da crise financeira e económica dos inícios deste milénio. Bastará ver, na verdade, a angústia das pessoas a que falta ou que perdem o emprego para medir-se tal importância. O trabalho não se reduz a um mercado; é mais, ou vai além (é diverso) de um objecto de partilha. Inscreve-se no tempo e no espaço de uma vida. Numa perspectiva religiosa, católica, JOÃO PAULO II (1981), na Carta Encíclica Laborem Exercens sobre o Trabalho Humano, já afirmava que “A Igreja está convencida de que o trabalho constitui uma dimensão fundamental da existência do homem sobre a terra (…) mediante o trabalho, o homem não somente transforma a natureza, adaptando-a às suas próprias necessidades, mas realiza-se também a si mesmo como homem e até, em certo sentido, se torna mais homem”.

É aqui, afinal, que reside o coração da crise.

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