sexta-feira, 25 de setembro de 2009

FÉRIAS … PARA QUE VOS QUERO!

Neste tempo de liberdade e disponibilidade pessoal acrescidas só terá pleno sentido se aproveitado, também, para aprendermos a viver juntos, a conviver com o outro, aprender a conhecer e a fazer e, sobretudo, aprender a ser.

O tempo de férias e o espírito que a elas preside, deixam ocasionalmente esvoaçar o pensamento até horizontes que, noutras situações, seriam, porventura, inatingíveis.

É bom estar de férias, por exemplo, para reler O Principezinho, de Antoine de Saint-Expupéry: “As pessoas crescidas nunca entendem nada sozinhas e uma criança acaba por se cansar de lhes estar sempre a explicar tudo”. E, continuando no mesmo diapasão, relembrar outras leituras, como, no caso, Georges Bernanos (Les grands cimitières sous la lune): “O mundo vai ser julgado pelas crianças” (p. 212).

Sem a pressão do quotidiano, muitas vezes massacrante de sofrimentos e desilusões, em momentos de lazer, voltamos, por vezes, a ter o espírito desse tempo que já foi, e em que fomos crianças. E, então, poderemos falar de outras coisas ao adulto que também somos, explicar-lhe coisas que, no correr de outros dias, ele não conseguiu compreender, e julgá-lo. Julgar-nos.
Só por isto já vale a pena ir de férias!

Mas esse tempo de liberdade e disponibilidade pessoal acrescidas só terá pleno sentido se aproveitado, também, para aprendermos a viver juntos, a conviver com o outro, aprender a conhecer e a fazer e, sobretudo, aprender a ser. Tudo aquilo, afinal, que, nos outros dias do ano geralmente nos passa ao lado no frenesi de vidas insolidárias e de cidadania escassa. Não há cidadania, na verdade, onde persiste a exclusão social, designadamente para populações imigrantes, como não há cidadania se não aceitamos as diferenças e a identidade de todo e qualquer grupo social e se se tolera a intolerância.

Entre os maiores desafios que enfrentaremos no século XXI configura-se o da Educação, entendida num sentido mais amplo do que o que a restringe a um qualquer sistema educativo. “A educação encerra um tesouro” (Delors, 1996) segundo se diz no relatório preparado para a UNESCO pela Comissão Internacional sobre educação para o século XXI. Ora cabe dizer que a educação não vai de férias e até pode aproveitar-se das férias para fazer mais caminho, nomeadamente quando, viajando, encontramos pessoas que não têm os mesmos direitos que nós temos e sobrevivem em condições não decentes para um ser humano.

Vai nisto, pois, a ideia de que o tempo de férias não tem de ser um mero período de lassidão, relaxamento e vazio. Pode, pelo contrário, ser um tempo para a prática da solidariedade numa perspectiva cidadã. E como em breve voltarão os dias dedicados ao “negócio” (que é o contrário de “ócio”) o mais importante é usufruir, entretanto, de tudo aquilo que a vida tem de bom vivendo em paz.

Até porque, a breve trecho, entraremos em trabalho, também, políticos, que nos exigirão bastante esforço e perspicácia intelectuais para não nos deixarmos ir no “conto do vigário”.
Talvez como nunca antes venhamos a ter diante de nós, em breve, na decisiva escolha – não, decerto, pela liberdade que acima de tudo prezamos, mas sobre a democracia pelo qual cada vez menos têm apreço neste tempo de erosão de convicções e de falta de honestidade política.

Não querendo cair nos prosaicos votos de boas férias – que, no entanto, espero que todos tenham – gostaria de terminar este aceno estival de simpatia lembrando uma celebre expressão de alguém que partiu, há dias, para o Oriente Eterno: “Façam o favor de ser felizes”.

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