sexta-feira, 17 de maio de 2013

quinta-feira, 9 de maio de 2013

ENTRE MUNDOS


Há sinais inegáveis de uma rutura com o passado.

As palavras que ora escrevo não serão mais do que palavras, porventura vazias, neste mundo que está virado de pernas para o ar. Escritos na água neste tempo opaco, rico em incertezas e prenhe de riscos que vem marcando uma etapa mais do trânsito da humanidade.

Há sinais inegáveis, porém, de uma rutura com o passado que nos colocam perguntas fortes e para as quais não alcançamos respostas, ou apenas algumas respostas frágeis, precárias.

Uma nova era marca já o nosso tempo. Não se trata de um mero tempo de mudança, mas de uma transformação radical, que vai às raízes das nossas vidas e as muda completamente. No entretanto desmembram-se continuidades que parece terem imperado no passado. Vejam-se alguns sinais. A Igreja Católica, que, quer se queira quer não, é um referencial incontornável da nossa mundividência, tem um novo Papa… ao lado de outro, dito emérito, mas que não deixa de carregar em si um certo passado que ainda é presente. Tão presente como o novo Papa Francisco, porventura o símbolo de algo novo, revolucionário mesmo. Não há, decerto, saber cientifico para perceber o que se passa e cada um tirará as suas ilações. Vale aqui, talvez, apenas aquela reflexão de Santo Agostinho: “Credo ut intteligam… intellego ut credam” (creio para poder entender… entendo para poder crer) – porventura um imprescindível apoio para nos situarmos neste conturbado mundo.

O processo austeritário em curso – e sem fim à vista – agrava cada vez mais a nossa condição de vida, ainda que, a alguns, esteja a trazer cada vez mais riqueza e poder. Não sairemos dele, porém, seja quando for, com o mesmo modo de ser ou de estar.

O crescimento económico é, por outro lado, a ilusão que, agora, parece despontar no céu negro entre os trovões.  Mas, nada estando assegurado, cabe, mesmo assim, perguntar: crescimento para quem? Crescimento de quê?

Entre a realidade e as promessas evidencia-se o desnorte que vai na vida pública em Portugal e no mundo. Na “Troika”, que nos oprime, uns acham que basta de punição e apelam ao crescimento económico, enquanto outros convocam e impõe uma ainda mais dura austeridade numa dualidade de posições que mostra bem o desvario que vai na cabeça dos políticos. Por cá, neste país que apodrece em cada dia que passa, acontece um governo com dois primeiros ministros (ou três, além de Passos e Portas … Gaspar)

Em casa onde não há pão (juízo) todos ralham e todos têm razão.

O início deste milénio há-de ficar na História como um tempo de mediocridade – de gente sem escrúpulos na governação pública; de ideias estúpidas e políticas experimentalistas; de falta de solidariedade e de egoísmo; de fome e de mal estar geral; de ausência de honra e de humanismo, também.

Em momentos de catástrofe é necessário projetar o pensamento para o período que se lhe há-de seguir e, daí, de novo, olhar com esperança o futuro. A isto se chama “catastrofismo esclarecido” (Jean-Pierre Dupuy, La marque du sacré: essai sur une dénégation, Paris, 2009) o que é algo que não tem sido objeto de devida atenção. Há que, com efeito, dizer a verdade sobre o presente sem minimizar o tamanho da catástrofe que se abateu sobre nós, mas lançar, também, pontes para o outro lado.

Os livros já foram todos lidos e as teorias são todas conhecidas da generalidade dos “mestres” que governam este tempo. Só falta, agora, dar um “jeitinho” e assumir uma ideia sobre Portugal – que não é um mero gabinete em Bruxelas, Nova York ou Berlim com janela para a província.