terça-feira, 26 de março de 2013

PODEMOS CONFIAR NOS BANCOS?


Os bancos tornaram-se negócios e os negócios tornaram-se bancos. Tudo parece começar a acabar neles, neste tempo em que sabemos o preço de  tudo, mas já não temos consciência do valor de nada.

Estamos num tempo de adaptações dolorosas que se diz serem inevitáveis. Num mundo submetido ao poder apátrida das multinacionais e dominado pela alta finança e sua sobranceria.

A insegurança quanto ao futuro, a falta de confiança nas instituições, a injustiça e a desigualdade cada vez maiores, a fragilidade e precariedade do emprego, a rápida obsolescência de quase tudo o que se aprende, a hipocrisia da moral como regra da política, a balcanização e pulverização aceleradas do mapa geopolítico do planeta são os nossos companheiros de viagem.

O que se passou em Chipre, alegadamente imposto pela União Europeia e pelo Fundo Monetário Internacional, anuncia invernos dramáticos em outros países. Aberta a “caixa de Pandora”, ninguém poderá, com um mínimo de credibilidade, dizer que o mesmo não se verificará de novo.

Os bancos andam a brincar, há muito, com o fogo. O nosso dinheiro é a sua mais valia, com que, depois, de resto, nos alienam e exploram. E não há regulação do sistema bancário que resista quando o regulador é quem fixa as regras da regulação através de subtis e peritos conúbios…

Ainda há pouco a palavra mágica era “se queres dinheiro vai ao …”. Hoje, o que a realidade evidencia é que quem lá foi anda com a corda ao pescoço e com pouca expetativa de sobreviver.

A ideia de que os bancos são entidades fiáveis, éticas, cumpridoras da lei, seguras, não resiste à mais leve e superficial análise. Não é uma questão, aliás, desconhecida entre nós. Os casos do BPN e do BPP, apesar do pouco que desses escândalos se sabe! – evidenciam a opacidade do sistema financeiro que comanda o mundo e tem filiais em Portugal.

Os bancos tornaram-se negócios e os negócios tornaram-se bancos (cfr. Sofia Santos, A Banca em Portugal e a Economia Verde, 2012, p. 117). Tudo parece começar a acabar neles, neste tempo em que sabemos o preço de tudo, mas já não temos consciência do valor de nada. Banqueiros, políticos e seus cúmplices são os donos das nossas vidas levando-nos, atrelados, para onde bem entenderem, com um objetivo único, que é o deles, de maximizar os lucros mesmo que para tal haja que espezinhar a dignidade das pessoas e os mais elementares direitos humanos. Os casos, bem conhecidos, de execuções por incumprimento de pagamentos de empréstimos para compra de habitação – entre tantos outros – são a prova cabal dessa posição.

Há que tomar consciência de que a banca, em 2008-2013, mostrou, afinal, que só vive para si própria e que como os eucaliptos, seca tudo à sua volta. A superioridade negocial que ostenta face ao comum dos depositantes e clientes é um fator de injustiça e expressão da servidão de quantos a ela têm de recorrer. O seu poder absoluto, corrompe absolutamente.

Sei bem como seria difícil viver numa economia sem um organizado sistema bancário. Mas, por mim, não compraria um automóvel em segunda mão a muitos dos banqueiros que têm estado em cena neste mundo que está de patas para o ar (Galeano).

Fique, porém, uma palavra nova e de esperança neste horizonte, bancos orientados por valores como alternativa ao atual sistema financeiro. Bancos que não visam a maximização dos lucros, mas têm objetivos sociais e solidários. É o caso do TRIODOS BANK e do CO-OPERATIVE BANK (ver obra citada, p. 93 ss.). Se a sociedade civil acordar a tempo – o tempo chega sempre, mas às vezes não chega a tempo – poderemos acabar, um dia, com as aves de rapina. Entretanto, caros leitores, não hesitem em utilizar o livro de reclamações que os bancos têm de disponibilizar. Na dúvida, não acredite na seriedade dos seus atos e contratos. Indigne-se. Proteste.

sexta-feira, 15 de março de 2013

O PORTO E A SUA REGIÃO– CAPITAL DA FACHADA ATLÂNTICA DA EUROPA


O Porto e a sua região no contexto da fachada atlântico da Europa constitui-se num território de novas conquistas, de um outro futuro, de maior dignidade cívica.

Poucos se surpreenderão ao verificar o título desta crónica. Sonho antigo, defendi-o com quantas forças pude e ao lado dos grandes homens que, então, partilhavam, no seio do Forum Portucalense, tais ideais. Mas a vida dá muitas voltas e, por isso, essa ambição foi metida na gaveta.

Há dias, porém, fui inquietado por um brasileiro, Cássio Rolim, professor universitário, grande entusiasta da “Construção do Grande Norte” nas suas próprias palavras. Fiquei surpreendido, tanto mais que nos juntamos na presença de um homem do Norte, o Sr. Prof. José Silva Costa. Uns dias depois desse encontro, o Prof. Rolim escreveu-me umas linhas, poucas mas profundas, onde fundamentava uma proposta para o seu projecto de conferências: “A região Norte de Portugal vive uma situação paradoxal. Nela está instalado grande parte do parque produtivo, uma parcela importante da população universitária, e o segundo aglomerado urbano do país. Além disso, mantém importantes relações económicas com as regiões espanholas vizinhas o que possibilita a consolidação de um amplo espaço económico transnacional. No entanto, apesar de todas essas vantagens, vem perdendo participação no PIB português ao mesmo tempo em que tem elevados índices de pobreza.”.

Com tantos autoproclamados “notáveis” no Norte – pensei eu – como é que tem de vir alguém do outro lado do Atlântico para nos chamar à pedra?! Eu senti-me interpelado, desafiado, envergonhado e aqui estou de novo, pois, para convocar os que ainda não desistiram de viver a sua (e na sua) terra para esse combate do futuro: fazer do Porto e da sua região a capital da fachada atlântica da Europa. E devo dizer que o facto de o país estar a atravessar uma gravíssima crise me dá ainda mais alento.

A regionalização do país – que, no transe, seria um instrumento adequado - não tem sido mais do que uma brincadeira na mão dos políticos de vários quadrantes. Ora a defendem, ora a repudiam conforme os seus interesses de ocasião que nunca são, porém, os interesses de Portugal nem os da democracia. A criação das regiões está, desde sempre, prevista na Constituição da República mas, apesar de tantos defensores desta (e dos direitos adquiridos) tal previsão não preocupa os partidos. E até se compreende, pois, nos jogos palacianos das suas ditaduras internas, aqueles tem mais com que se preocupar, ou não fossem hoje essas entidades funestas os líderes da corrupção em todas as dimensões da palavra.

A regionalização, como caminho para se alcançar uma nova sociedade de onde a crise possa ser desalojada, é, porém, um imperativo que só não é compreendido na capital – que ainda se tem por capital de um império colonial e onde, agora, as colónias são as regiões deste maltratado país.

Regiões e cidades estão, porém, no mapa de um outro possível futuro. Já lá vai o tempo dos Estados-nação e não é possível ignorar mais as cidades e as regiões mundo deste tempo global.

O Porto e a sua região, no contexto da fachada atlântico da Europa, constitui-se num território de novas conquistas, de um outro futuro, de maior dignidade cívica. É notório que, para tal, tem qualidades humanas e materiais, muitas delas, porém, desperdiçadas até agora por invejas e egoísmos de autarcas autistas. O tempo exige austeridade mas não proíbe a reflexão e, por aqui, é fácil de concluir que acabou o tempo do cimento e, agora, é o tempo do conhecimento.

Criar valor é o que o Porto e a sua região pode e deve fazer. E é nas PME, que marcam o seu tecido económico, que residem os melhores espaços para desenvolver a economia do futuro que em breve não será mais a de produção em massa. A escala das regiões será a potenciadora maior das inovações tecnológicas que se adivinham, em novos produtos e outros serviços.

Quer queiram, quer não, o Porto e a sua região, na fachada atlântica da Europa, estão no caminho do futuro. Vamos demonstrá-lo.