sexta-feira, 10 de julho de 2009

O FUTURO DO SUCESSO

A decisão de adiar – uma vez mais ! – a construção do TGV mais do que me entristecer, revolta-me, enquanto exprime mais um adiamento do meu país.

Na introdução que escreveu para a edição francesa do seu livro “L’Économie Mondialisée” (1993), o economista americano ROBERT REICH, que também foi Ministro do Trabalho de Clinton, afirmava: “Na verdade, o futuro sucesso da economia francesa dependerá dos dois factores de produção que se deslocam com menos facilidade de uma nação para outra: os indivíduos e as infra-estruturas. O nível de vida dos franceses dependerá da sua capacidade em acrescentar valor à economia mundial graças aos seus cérebros, bem como aos sistemas de transporte e de comunicações que ligam tais cérebros entre eles e com o resto do planeta”.

Há, traduzida em português, uma obra, pelo menos, desse autor cuja leitura é verdadeiramente empolgante. Chama-se “O futuro do sucesso” e foi editada pela Terramar (2004).

Trata-se, naquela introdução acima invocada, de uma simples opinião, claro e, até, destinada a um país outro, sendo certo que a mesma ofenderá a enorme sapiência e o amor pátrio dos muitos que, por aqui, na política do pêndulo, são ocasionalmente contra aquilo a que, do alto dos seus poleiros, designam por “megaprojectos”, nomeadamente o transporte de alta velocidade em Portugal, mas não só.

A decisão de adiar – uma vez mais ! – a construção do TGV mais do que me entristecer, revolta-me, enquanto exprime mais um adiamento do meu país. Colhi todos os argumentos que vieram na opinião publicada e meditei sobre o assunto tendo chegado à conclusão de que nessa decisão tanto pesa o oportunismo de uns, quanto a pusilanimidade de outros. E, ainda, por cima de tudo, o sempre ocioso egoísmo partidário que, na oposição, promulga irresponsavelmente a “lei da terra queimada”, ou do quanto pior melhor.

Em tempo de crise – crise de civilização e, mais ainda, de cultura – a defesa do “Portugal dos pequeninos” serve bem às estratégias dos políticos menores e incapazes que por aí pululam e não deixa também de anestesiar os incautos e indecisos que entopem o espaço público. Com tal gente não haverá, porém, futuro!
Sem o transporte de alta velocidade que corre já por toda a Europa e está às nossas portas na vizinha Espanha, seremos num lago de águas mortas sem acessos. Com a porta do mar fechada e a saída para a Europa comprometida por via férrea - o transporte do presente e do futuro. É que sem tal tipo de transporte, as mercadorias vindas do atlântico sul ( e não só) não têm acesso, por Portugal, à Europa – e, com isso, a estratégia nacional para os oceanos sofre uma machadada fatal. Depois, haverá que mudar de transporte sempre que se meta o nariz na fronteira espanhola…

Isto cabe na cabeça de alguém?

E não me venham, porém, com a história da crise e a dos custos que ficarão, desse investimento, para as gerações futuras.

Já se gastou tanto dinheiro para nada à laia da crise – e que nunca mais se recuperará – que não aceito tal argumento. E quanto às gerações futuras… vão ser elas, mais que a minha, a usufruir do que também eu vou pagar como contribuinte.

Robert Reich é que tem razão. É a inteligência dos portugueses e a sua capacidade de fazer circular ideias, pessoas e bens no mundo com rapidez e eficácia que construirá o futuro.

Contra todos os “Velhos do Restelo”.

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