sexta-feira, 10 de julho de 2009

GRANDES INVESTIMENTOS PÚBLICOS: APELO À LUCIDEZ

Realidade é muito mais importante do que a publicidade e, além disso,
de líderes de “claques” está o país farto.


O tema é actual e justifica inequivocamente mais debate no espaço público ainda que alguns argumentos comecem a entrar em estado de putrefacção de tão pouco consistentes e porque desprovidos, também, de um saber eticamente fundado e, deontologicamente, irrepreensível.

Refiro-me, de novo, aos grandes investimentos públicos – designadamente em auto-estradas, ao projecto da rede ferroviária de alta velocidade e ao novo aeroporto de Lisboa. E, dizendo o óbvio, tal matéria não poderá ser bem analisada sem se compreender a crise por que passamos – uma crise estrutural interna e conjuntural externa. Ademais, só ganharão sentido as posições que se venham a tomar sobre a temática em causa a partir de uma clara compreensão dos objectivos estratégicos de Portugal. Há que repisar este aspecto pois muitos “vencidos da vida” o ignoram ou já são incapazes de lhe dar o valor essencial que tem.

Ora, no contexto do debate, foi publicitado um patético “Apelo à reavaliação dos grandes investimentos públicos” subscrito por uns quantos ditos economistas, também como publicidade paga (por quem? por que valor?) que é um claro manifesto partidário contra tais investimentos ainda que ilusoriamente travestido de mero apelo à reflexão. Gostaria de perceber, antes de mais, então, quem paga toda esta azáfama, também, porque ocorre neste momento, e, de seguida, a quem aproveita o que defendem. Seria interessante, depois, conhecer quantos outros se terão recusado a entrar nesse barco. É que trinta economistas, por mais credenciados que alguns sejam, é uma árvore na floresta. E o combate é de natureza técnica, política, ou meramente partidária?

Reclamo cartas na mesa e jogo limpo.

Apelos destes, por outro lado, valem o que valem e têm de ser contextualizados sob pena de os argumentos atirados para o debate não passarem de juízos subjectivos e, até, de preconceitos pessoais, quando não ajustes pontuais de contas. De resto, lido esse apelo, fica o sabor amargo a um jargão economicista inextricável para o cidadão comum e a impressão de que o alegado serviria, também, à conclusão diametralmente oposta. De tão auto-proclamados ilustres economistas seria de esperar, com efeito, algo mais reflexivo, ponderado, enxuto e fundamentado. Assim, caíram na vulgaridade das disputas interesseiras por protagonismo e, porventura, na disputa de favores do Estado, até porque a notória falta de perspectiva multidisciplinar e estratégica do seu arrazoado o condena, inelutavelmente, a vida efémera, não mais longa do que a do próximo calendário eleitoral. E é pena, porque a realidade é muito mais importante do que a publicidade e, além disso, de líderes de “claques” está o país farto.

Será que tão mediátizados economistas também já se deram, alguma vez, ao trabalho de fazerem as contas, para o Estado e para as empresas, dos custos dos adiamentos sucessivos e das reviravoltas (também de alguns deles) no que se refere às decisões de investimento em causa? A certeza e a segurança de qualquer política económica é um valor mensurável em dinheiro, mas isto, curiosamente, escapa-lhes. Ao contrário, querem mais estudos, mais consultoria. Eu até os percebo… mas prefiro, de longe, a perspectiva desse singular empresário, Américo Amorim, que em recente entrevista a jornal dito de referência assinala que “assumir riscos, reunir recursos e colocá-los ao serviço da sociedade” foi sempre o seu lema – e, sublinho eu, deveria ser também o de todos os que desejam realmente o desenvolvimento de Portugal e o bem estar dos portugueses, ainda que, para tal, alguns, ou muitos, sacrifícios se tenham de viver. O que importa é ver longe, ser como as águias que planam sobre as montanhas e não como os patos que passam a vida a grasnar e a queixar-se, incapazes do mínimo golpe de asa.

Apelo, pois, à lucidez de quantos, não ignorando as dificuldades presentes, têm, ainda, alma para compreender os intertesses profundos e estratégicos do país e não se deixam aprisionar por falaciosas contas que, não sendo irrelevantes para as decisões políticas lhes são, porém, meramente instrumentais. Não deixemos, pois, o futuro do país no divã de certos falsos psicanalistas da economia, politicamente voláteis face a compromissos inadiáveis com o passado e, também, com o futuro. Ou o comboio voltará a passar mas deixando-nos, como noutras vezes, nos apeadeiros da periferia da Europa e do mundo, sem uma economia competitiva e longe da coesão social tão urgente.

Sem comentários: