quarta-feira, 24 de outubro de 2012

O MELHOR POVO DO MUNDO


Pior governo do mundo vai dissolver o melhor povo do mundo e escolher outro.

O “melhor povo do mundo” não parece ter grandes opções de vida. Entre emigrar, na opinião de Passos Coelho – grande educador para a austeridade -, e subjugar-se aos comandos da “troika”, que venha o diabo e escolha. O Governo não está, também, em situação de escolher livremente o seu futuro. Tem de ser fraco com os fortes – a troika é quem põe e dispõe – e, depois, vingar-se no mexilhão, que oprime sem limite algum, assim sendo forte com os fracos. Um jogo de soma nula.

Paradoxalmente os fracos são, justamente, o melhor povo do mundo!

E não somos? Claro que sim. Veja-se só como aceitamos a punição da austeridade para pagar os erros dos outros – e a sua ganância – dando-lhes as nossas tripas, ou seja, o pouco que ganhamos a trabalhar como mouros (impostos e taxas), mais o ouro que ficou de alguma herança ou memória (vendido por truta e meia nas casas de vendilhões que por aí proliferam e que os reencaminham para os donos do mundo) e, ainda, as próprias entranhas ou tripas do nosso território para explorarem (investimento estrangeiro, diz-se!) minas de volfrâmio e metais preciosos. Amanhã, porventura, petróleo. E parece que nem o ouro de Salazar, guardado no Banco de Portugal, vai escapar.

Que ninguém se iluda. O ditado “vão-se os anéis, fiquem-se os dedos” não se vai concretizar para o melhor povo do mundo. Vamos ser convocados – já o estamos a ser – para dar também a nossa própria vida abdicando do direito à saúde, à educação, à habitação e, até, do simples direito a comer alguma coisa para enganar o estômago.

Adivinho já alguns dos mais generosos desse grande povo, o melhor do mundo a correr, heroicamente, atrás de uma galinha alemã, da capoeira da Sr.ª Ângela Merkel, para partilhar um pedaço de pão a cair do bico de um galináceo germânico em fuga (perdoe a minha falta de imaginação, Dr. Fernando Nobre). À vista do Armagedão, o melhor povo do mundo cumprirá então, a suprema vontade deste inefável governo e dos seus mandantes. No mais escrupuloso respeito pela democracia irá a eleições. Eleições? Sim, porque o pior governo do mundo vai dissolver o melhor povo do mundo e escolher outro. E serão todos felizes até que a morte os separe.

Há, ainda, por aí alguns otimistas inveterados que, por desconhecidas razões, continuam a explicar o que é inexplicável – que Portugal é um país independente, que vivemos em democracia e que existe um governo legitimo. Matraqueiam uns slogans partidários pelo meio e aconchegam-se aos partidos que os sustentam direta ou indiretamente. Desde que não lhes peçam para pensar, vai tudo bem…

Portugal – o país da minha geração – já não existe. Provavelmente nunca mais existirá. “Jás morto, e apodrece”.

Tem razão o ministro Vitor Gaspar: os portugueses têm de saber e de decidir quanto querem pagar pelo Estado Social que reclamam e a Constituição de 1976 lhes prometeu. A resposta mais provável é que não querem pagar, ou não possam pagar.

No fim, que se anuncia, voltamos, então, ao princípio. Só se pode distribuir aquilo que se produz antes. As contas de calcular, a tabuada e os modelos económicos não prestam para nada se nada se quer construir.

Estamos conversados, Dr. Vitor Gaspar. O senhor sabe tudo de nada e entrou num filme que não era o seu. Volte depressa para Bruxelas (perdoamos-lhe a dívida da sua educação e ainda lhe oferecemos bilhete, mas só de ida) e leve consigo a corja que anda à sua volta. E que venham verdadeiros patriotas, estadistas, homens a sério, com dignidade e valores para restaurar a democracia política, económica e social que vocês destruíram.

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