Debater as funções do Estado – e o seu custo e modo de pagamento – é
tarefa ciclópica, mas incontornável face às grandes transformações nos “mundos
da vida” que a crise de 2008 nos vem colocando no caminho.
O ministro Vítor
Gaspar tocou um dos temas mais relevantes para os portugueses quando afirmou
recentemente na Assembleia da República que “aparentemente existe um enorme
desvio entre aquilo que os portugueses acham que devem ser as funções sociais
do Estado e os impostos que estão dispostos a pagar”. Ao exprimir-se através do
advérbio “aparentemente”, mostrou que não estará seguro da sua declaração, mas
creio que a questão é muito pertinente e deverá ser objecto da maior atenção.
Não esqueço, também, que num livro recentemente publicado, coordenado por
Raquel Varela, com o título “QUEM PAGA O ESTADO SOCIAL EM PORTUGAL – onde nos
leva esta crise económica? O Estado de bem estar europeu tem futuro? Dívida
pública: dívida de todos ou negócio de alguns?” se conclui, com importantes
fundamentos, que são os contribuintes quem paga o Estado social e não o
estrangeiro.
Debater as
funções do Estado – e o seu custo e modo de pagamento – é tarefa ciclópica, mas
incontornável face às grandes transformações nos “mundos da vida” que a crise
de 2008 nos vem colocando no caminho. Há que perceber que um mundo acabou e outro
está a nascer, uma nova era certamente e não uma qualquer mudança superficial
ou conjuntural.
Naturalmente que
se sente mais na pele a problemática do Estado social pois toca prestações e
serviços a que todos se habituaram como “coisa normal”, assim como se fosse um
maná vindo dos céus na euforia de Abril e para ficar para sempre. Deve
sublinhar-se, porém, que a problemática é muito mais vasta entroncando-se,
nomeadamente, com aquilo que se designa por “Conceito Estratégico de Defesa
Nacional” – algo que anda, de resto, demasiado longe, infelizmente, das
preocupações governamentais, o que se há-de pagar um dia destes. E, também, com
as escolhas, com mais de oitenta anos de aprofundados estudos e debates, quanto
à intervenção do Estado nos mercados. (Ver a propósito, de Nicholas Wapsshott,
Keynes/Hayec – o confronto que definiu a economia moderna, D. Quixote, Setembro
2012). Mais despesa pública ou, ao contrário, mercado livre, é este o nó gordio
também da saída para a crise. O Estado, sempre, no centro do furacão.
A Constituição
de 1976, ainda que revista em diversos momentos, exprimiu a vontade política do
povo português num certo momento. Os Constituintes consagraram, todavia, apenas
as ambições – que fixaram em direitos – dos seus representados ignorando,
majestaticamente e com o tradicional populismo, as obrigações que deveriam
corresponder aos direitos. Depois se veria, terão pensado…
Hoje é chegado o
momento de fazer contas. Sublinhe-se, porém, que as escolhas não são apenas do
foro financeiro, ao contrário do que, por vezes, se quer fazer crer. São
ideológicas – têm a ver com as funções do Estado, as suas finalidades.
As promessas
primeiras incluídas na atual Constituição estão a ser destruídas antes, mesmo,
de terem sido plenamente alcançadas numa manifesta crise de representação do
futuro.
O povo
português, à luz dos tempos novos que vivemos, deverá ser chamado a
pronunciar-se sobre as propostas que os partidos venham a apresentar quanto ao
Estado que pretendem e, aí, terá de lhes ser dito o respetivo custo. Só assim
se podem pedir sacrifícios e impor austeridade e, sobretudo, só nesse contexto
se pode pedir que todos lutem para que o futuro seja melhor para todos.
Não é possível por
muito tempo sustentar, pelo medo, o atual estado do país.
Sem comentários:
Enviar um comentário