O Estado em vez de estar ao serviço dos
cidadãos, serve-se destes retirando-lhes, mesmo, muitas vezes, a dignidade de
seres humanos.
Não
tenho o direito de julgar seja quem for, mas não me furtarei jamais a, segundo os
meus princípios e valores, éticos e cívicos, interpelar a consciência de
quantos têm andado por aí a viver à custa do Estado português. E se tiver de
lhes chamar, nesse pressuposto, corruptos, mentirosos, palhaços, valdevinos ou
ladrões, só espero que não me doa a mão que escrevinha estas crónicas.
A
meu modo, com os meios ao meu alcance, pretendo, apenas, que eles sintam
vergonha de se dizerem portugueses, de pretenderem ser vistos como democratas,
porventura até, alguns, como pessoas.
Nas
últimas semanas vieram a lume histórias de esqueletos escondidos em diversos
armários, há muito tempo, por políticos e partidos. Mas muitos já sabiam delas
e calaram-se, calaram-nos ou ficaram mudos pelos interesses egoístas de que
vivem. A “Face Oculta” do PSD (que é, creio bem, idêntica em outros partidos)
que a “Visão”, nº 1124 e 1125, evidenciou com factos, mostra, além da vileza de
certos políticos nascidos nas barrigas partidárias, também como a República –
cuja implantação domingo se comemora – está a passar por uma profunda crise.
A
democracia representativa, por um lado, não funciona, é uma ilusão, um fogo-fátuo.
Está a ser, há muito, completamente pervertida posta que foi ao serviço dos
partidos do chamado “arco da governação”.
O
Estado já não assume nem respeita os valores republicanos – se é que respeita
quaisquer outros valores. Em vez de estar ao serviço dos cidadãos, serve-se
destes retirando-lhes, mesmo, muitas vezes, a dignidade de seres humanos.
O
Estado português, ou melhor, quem o capturou, porta-se, na verdade, como a
cigarra da fábula e faz dos seus cidadãos, pela austeridade cega e o medo
inerentes, formigas escravizadas.
Mas
este fenómeno tem paralelo em muitas outras latitudes. Num livro que vem de ser
dado à estampa – L’État voyou”, de Caroline Brun e de Marie-Christine Tabet,
edição Albin Michel, são denunciadas muitas situações deploráveis em que se
pode ver como os Estados, designadamente, seviciam os cidadãos-contribuintes,
enquanto são péssimos pagadores dos seus compromissos.
Há
que ler e divulgar este retrato dramático do nosso tempo apocalíptico.
Cumpre,
também, afirmar com frontalidade que as notícias que têm vindo a lume são,
apenas, a ponta de um “iceberg” em que, até o “cavaquismo”, está presente. Ora
é urgente que quem sabe fale, e que quem tem o poder de investigar investigue o
mar de iniquidades e ilegalidades em que vogaram, a seu bel-prazer, muitos
políticos, nos últimos anos. De preferência antes que os crimes prescrevam ou,
até, venha por aí uma providencial amnistia.
Gaia
e Porto estariam assim tão longe nos procedimentos?
Já
prescreveram eventuais crimes? Pois…
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