quinta-feira, 15 de maio de 2014

"TURISMO POLÍTICO"



O novo turismo político em vez de dossiês leva armas e em lugar de diplomatas soldados e mercenários.


Andávamos nós a tentar perceber esse fenómeno novo ou, pelo menos, renovado do nosso tempo que parece ser o Turismo de saúde e bem-estar, também dito Turismo médico, e eis que uma outra realidade, forte, incontornável, entra pelos nossos olhos dentro: o “Turismo político”. Sim, a moda está aí, provavelmente para ficar, agora à luz do dia e não já nos escarninhos de qualquer arrogância imperialista: a Rússia exporta “turistas políticos” para a Ucrânia. Não me parece, porém, que tenha inovado muito nesse aspeto, apenas está a demonstrar ser muito competitiva.

O turismo político há muito está identificado, sendo referenciado a reuniões, regulares ou isoladas, das classes políticas no âmbito das relações internacionais. As questões protocolares e de segurança têm, aí, um lugar destacado na análise do fenómeno. O novo (ou renovado) Turismo político – como Fukuyama se enganou ao declarar “o fim da História”! – tem outros objetivos políticos e geoestratégicos, assentando, decisivamente, no ativismo político em alta neste tempo de vésperas. Em vez de dossiês leva armas, em lugar de diplomatas estão soldados e mercenários.

Sustentado formalmente pelas redes sociais e por um sistema mediático globalizado que vive do espetáculo das revoluções ao vivo, condiciona crescentemente a Política. Disso nos dão conta os acontecimentos recentes e os processos ainda em curso na Líbia, no Egipto ou na Síria. Na Ucrânia, o assunto cava mais fundo, mas, exteriormente, não é muito diferente.

O cinismo é, no transe, a marca de água ostentada pelos beligerantes reais – não os ativistas políticos que não passam de lebres, de carne para canhão. Do Ocidente pede-se a Putin que use a sua influência para que os grupos armados, no terreno, deponham as armas, como se estas não fossem dele e não estivessem ao serviço dos seus interesses imperialistas. Putin responde, hipocritamente, que não existe qualquer ingerência russa na Ucrânia e que tudo não passa de má e insuficiente informação.

É dramático para o Ocidente e, sobretudo, para a Europa o que se está a passar na Ucrânia, mas quem semeia ventos colhe tempestades, como diz o velho ditado. Não foi a mesma estratégia, na verdade, usada pelo Ocidente em tantas situações, nomeadamente à volta da queda do “Muro de Berlim” e em várias “guerras por procuração” que levou – e leva ainda – em diversos países da África?

Há muito tempo que a Europa não sabe o que quer nem para aonde vai, sobretudo a União Europeia. Desnorteada, sem fé e sem esperança política, todos os caminhos lhe servem para, afinal, não sair do que parece ser o seu leito de agonia.

E se os povos da Ucrânia quiserem mesmo integrar-se na Rússia, tal como outros (Catalunha, País Basco, Córsega, Escócia, tantos!) quiserem tornar-se independentes dos Estados que os controlam?

A geopolítica está de volta, se é que alguma vez esteve ausente. Hoje, porém, com violência acrescida e com consequências cada vez mais próximas de nós. E o mais grave de tudo é que já não é comandada pela Política, mas por interesses financeiros, sem rosto, ao pé dos quais muitos dos políticos que aí andam não passam de seus meros serventuários.

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