Só há um caminho eficiente e eficaz a seguir perante os cadáveres
adiados que são os partidos políticos. Chama-se rutura institucional.
A propósito da
reunião havida esta semana entre o Governo de Passos Coelho e o PS de António José
Seguro – um encontro para “Troika” ver, mas falsa como Judas – veio-me ao
limiar da memória a celebre frase do rei Juan Carlos, de Espanha, ao, então, presidente
da Venezuela, Hugo Chaves: “Por quê no te
callas?”.
Claro que a
pergunta, no transe, deveria ser a contrária: porque é que Passos e Seguro não
falam sobre o que vai por este martirizado país fora? Porque é que não se
entendem sob um denominador comum mínimo que poderia ser, singelamente, o tema,
da democracia em Portugal cuja sobrevivência, após passar o estado atual de
suspensão, está em causa? (Não me refiro aos procedimentos de uma democracia
formal, é claro…).
Cada um dos
leitores terá a sua opinião e, decerto, a verdade, também aqui, será algo
próximo da soma da verdade de cada um. Mais relevante, porém, do que saber a
razão da dissensão é a convicção (ou crença?) de que com estes “jotas”,
formatados nos conúbios partidários e que nunca fizeram mais nada de útil e
digno na vida do que passarem-se rasteiras uns aos outros, não haverá jamais qualquer
entendimento político-partidário. Nunca foram ensinados a partilhar e, na sua
formação, apenas receberam instrumentos para se guerrearem. Eles levarão
naturalmente, um dia, os respetivos partidos políticos ao seu fim por implosão.
Está escrito nas estrelas, diria o outro eternamente jovem jota. Talvez nesse
fim esteja, porém, um novo começo…
Num mundo em
profunda mudança e ainda sem desígnio algum quanto ao futuro, varrido por
ventos ciclónicos que sopram de diversos quadrantes e o tornam num verdadeiro
inferno para muitos homens e mulheres; num tempo de desconstrução das grandes
categorias do pensamento, de generalização do precário de glorificação, do
efémero e do transitório – tempo “líquido” e de crise de valores, precisamos de
heróis e de santos. De estadistas. De homens e mulheres avisados e competentes,
com experiência das agruras da vida e não, apenas, do saber gasoso dos
gabinetes, cá de dentro ou lá de fora.
Há, porém, uma
outra crise de que pouco se fala e que é a crise da inteligência. Como se não
bastasse o amadorismo dos que governam, a sociedade portuguesa também não vive
um tempo glorioso naquele aspeto. E, talvez, por isso, se comanda e pune
conforme está escrito nos livros (dos outros) e não segundo o interesse dos
portugueses. E se faz oposição “a la
carte”, também.
Não subsistem
muitas dúvidas de que, para além de dependermos (por vontade dos políticos
nunca plebiscitada) da U.E. e dos seus anões políticos, é de nós próprios que,
acima de tudo, dependeremos no futuro. Na política não há amizades, nem países
amigos: há interesses. Deixo, a propósito, uma pergunta muito, mesmo muito
ingénua: alguém sabe se a Alemanha pagou a totalidade das dívidas da II Grande
Guerra aos países que destruiu e quis subjugar? E como e quando é que pagou o
pouco que pagou? É um tema incómodo – como o da compra dos submarinos – mas que
um dia verá ser feita justiça. Os gregos já lançaram a âncora ao mar.
Retomando o fio
à meada direi que só há um caminho eficiente e eficaz a seguir perante os
cadáveres adiados que são os partidos políticos (sabe o leitor que, quando
vota, ajuda a encher-lhes os cofres com o o seu próprio dinheiro?!) que detêm o
poder e as rédeas da (pseuda) oposição. Chama-se rutura institucional. No entretanto
seria de mais pedir um esforço suplementar ao PS, ao PCP e ao BE para que
construíssem, em diálogo, uma alternativa conjunta ao descalabro vigente?
Se tal viesse a
acontecer, os poderes financeiros que, nas trevas, dominam o mundo, revoltar-se-iam,
decerto. E far-nos-iam pagar caro o atrevimento. Mas, afinal, não perdemos já
tudo, até a dignidade?
A arrogância de
um certo PS não será perdoada nem a intolerância de certa esquerda.
Não perceberem
que o mundo mudou é um crime.