sexta-feira, 29 de novembro de 2013

A RESTAURAÇÃO E O DIA PRIMEIRO DE DEZEMBRO DE 2013

Haverá no mundo outro povo que não comemore o dia da sua independência e não o considere legalmente feriado obrigatório?

Em 1640, Portugal recuperou a sua plena independência relativamente a Castela, após sessenta anos de subjugação dos Filipes.

Uma das notas da dominação filipina foi o forte agravamento de impostos, também sobre os clérigos, sob pena de pesadas sanções. Como executor perverso e intransigente dessa política destacou-se um “português”, Miguel de Vasconcelos. O povo, por todo o país e, também, no império colonial revoltava-se enquanto Madrid sugava a nossa vida.

O 1º de Dezembro sempre foi um dia feriado, sendo certo, porém, que num mundo em que os valores se foram perdendo em prol do consumismo, do hedonismo, da gratificação imediata e, enfim, do “salve-se quem puder”, a poucos já tocava o seu sentido e alcance.

O golpe final foi-lhe dado, recentemente, por uma Lei da Assembleia da República (Lei nº 23/2012 de 12 de junho) que, alterando o Código do Trabalho, deixou de ter esse dia como feriado obrigatório. Alegadamente, a promoção da competitividade da nossa economia assim o exigia… ao menos na perspetiva da “Troika”, expresso no Memorando de Entendimento, que, poderes não eleitos, nos impuseram à laia de resgate por pecados imperdoáveis que cometemos.

Haverá no mundo outro povo que não comemore o dia da sua independência e não o considere legalmente feriado obrigatório?

Não conheço.

A questão em apreço não é do foro jurídico, ou apenas desse domínio, ainda que aí revele  como o Direito está colonizado, na atualidade, pela economia e pela finança globais. Há outras e mais relevantes perspetivas de análise cuja natureza diz respeito à nossa mundividência. Sejam imperativos categóricos racionais secularizados ou, outros, de natureza religiosa, baseados em axiomas transcendentais, o certo é que as comunidades políticas têm os seus valores morais – são comunidades morais! – imersas indeclinavelmente no seu contexto histórico e cultural e, também, sociológico.

O 1º de Dezembro tem um significado centenário, num país que, por vezes, se considerou como improvável enquanto Estado independente. Disso há que ter consciência e respeito por essa consciência. Não se trata, na arqueologia dos conceitos, de um feriado qualquer. Conformou, durante muito tempo, espiritual e socialmente, o nosso modo de ser e de estar na Península Ibérica, na Europa e no Mundo. Através dele eram os cidadãos convidados a contemplar o passado e o seu destino comum nas múltiplas dimensões interiores da sua existência.

O 1º de Dezembro deveria – deverá – ser um dia de todos os portugueses. Feriado, obviamente. Nele, e por ele, se deveria reconstruir a liberdade e, sobretudo, promover e garantir a identidade, coesão e continuidade intergeracional.


A existência de Portugal como país soberano.

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