sexta-feira, 22 de novembro de 2013

RAMALHO EANES OU A MORAL NA POLÍTICA

A política é, também, a luta de memória contra o esquecimento.
No próximo dia 25 de novembro muitos portugueses vão reunir-se para o homenagear.
Não poderemos ignorar.

Num mundo angustiado e à deriva, há que reconhecer que as ciências que se ocupam do Homem têm feito progressos notáveis, mas, que, acerca de nós próprios, pouco ou nada sabemos. “A ciência do homem é a mais difícil de todas as ciências” (Alexis Carrel, O Homem, esse desconhecido, cap. I, 3).

Em Portugal, em pouco mais de uma geração, o nosso ambiente intelectual e moral mudou radicalmente, mas o homem, não. O progresso material, a riqueza e o bem estar relativos que se sucederam à Revolução de Abril, levaram iniludivelmente à desconsideração de muitos valores éticos e morais. Não mais se construíram Caravelas para descobrir mundos, nem se levantaram Templos para olhar mais além, e, ao contrário, deixamo-nos embriagar pelo perfume das novas catedrais do consumo, imediato e a crédito. Sabemos o preço de tudo, mas não sabemos o valor de nada.

O Armagedão está à porta quando os sonhos de novas primaveras são, ainda, tão recentes!

Um grupo de bravos portugueses, com memória, resolveu prestar homenagem a um homem que, um dia, se levantou contra movimentos liberticidas num tempo em que Portugal vivia, também, angustiado e à deriva. Esse Homem é o General António Ramalho Eanes.

Há que lutar contra o esquecimento e recordar essa data e aquele português. Cada dia que passa é mais tarde para o fazer, mais fundo o medo, mais ténues as forças.

Não sei – nunca soube (e fui seu mandatário para a juventude, em Coimbra, nas eleições de 1976) – se é de direita ou de esquerda. Mesmo que esta categorização ainda valha alguma coisa, tenho por certo que ele está do outro lado das coisas. Mas sei – todos sabemos – que não foi acionista do BPN, recusou ser promovido a marechal, rejeitou benesses financeiras (que os tribunais confirmaram que eram direitos seus) e nunca se “enganou” nas declarações prestadas às autoridades do país. Haverá quem possa dizer mais a propósito mas, num tempo de servidão, guarda-se de Conrado o prudente silêncio…

A política é, também, a luta de memória contra o esquecimento.

Recorrendo a velhos arquivos, encontrei no nº 2 (6 a 13 de maio de 1976) da revista OPÇÃO um editorial de Artur Portela Filho (p. 15) que já então enunciava o que se confirmou, depois, e que aqui queria sublinhar: “Porque Eanes não é um presidente cómodo, fácil e emotivo “ (…) ”Eanes é outra incursão da moral na política” (…) “É certo que Eanes tem, da democracia, a teima, a firmeza, o rigor”.

Como estas palavras soam no limiar da nossa inquietação atual!

No próximo dia 25 de novembro muitos portugueses vão reunir-se para o homenagear – “Como reconhecimento moral e cívico dos altos serviços que prestou, e continua a prestar à Pátria de todos nós, através da postura de grande lucidez que continua a revelar perante os graves problemas com que o nosso país se confronta, e como apelo às novas gerações que são o nosso futuro” (do texto que anuncia o evento).

Não poderemos ignorar.

Lá estaremos!


[Quem se quiser inscrever na Comissão Cívica Pública deve fazê-lo para o site: www.testemunhopublico.pt]

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