sexta-feira, 1 de novembro de 2013

CARTA ABERTA AOS DOENTES POBRES DO MEU PAÍS POBRE

Ninguém tem culpa por ter nascido em Portugal, mas todos temos a obrigação moral e cívica de nos indignarmos quando, em proveito próprio, alguns sugam a vida da nossa vida – da vossa vida.

Vejo, oiço e leio que estais a sofrer os efeitos da iniquidade de uma política de austeridade que já vai muito além do que seria humana e eticamente suportável. E que as vossas vidas já estão, por isso, em risco.

Sei bem, também, que os desmandos dos usurários negociantes de serviços ligados à saúde causaram ( causam ainda) danos gravíssimos ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), tanto quanto o tem extorquido escandalosamente empresas fornecedoras de produtos e bens necessários à prestação de cuidados de saúde. Em grande parte estais a sofrer as consequências do egoísmo e, pior, de práticas criminosas de corporações e de empresas administradas por verdadeiros ladrões do Estado, protegidos por cumplicidades inconfessáveis, por vezes dentro do próprio sistema de saúde.

Ninguém tem culpa por ter nascido em Portugal, mas todos temos a obrigação moral e cívica de nos indignarmos quando, em proveito próprio, alguns sugam a vida da nossa vida – da vossa vida. Por isso vos escrevo, solidário, esta carta, assumindo, com todas as consequências, que muito do que estais a sofrer, é fruto de crimes de poderosos interesses que mandam de facto neste país. Mas é também fruto da inépcia de alguns que nos tem governado e que só sabem contar até dez – e cortar, cortar a eito nos nossos mais elementares direitos de cidadania.

Vós, pobres doentes deste triste país, que andais à míngua de cuidados de saúde, medicamentos, transporte hospitalar… sabeis, por acaso, que qualquer cidadão da U. E. que se apresente num hospital português recebe tudo o que precisa e não paga (quase) nada?! Sabeis que países vários, como a Inglaterra, mandam para se tratar em Portugal os súbditos de sua Majestade, disfarçados de turistas, e que somos nós, portugueses, que ficamos com os respetivos custos?

Falta dizer-vos mais.

É que várias companhias de seguros – dessas que mandam visitar-nos garotas de mini-saia para firmar contratos de seguros e, depois, “coronéis” odiosos para renegar as eventuais consequências dos sinistros – estão a defraudar a Lei, a mentir aos seus clientes e a prejudicar criminosamente o nosso país.

Eu explico. Ao contratar uma viagem é geralmente imposto “suavemente” aos turistas que procuram Portugal um seguro, designadamente para eventualidades de acidente ou doença – seguro que paga. Se por infelicidade acontece um sinistro, o que se passa, geralmente, é que essas seguradoras assobiam para o lado (quando não expressamente recusam cumprir as suas obrigações) e mandam os segurados apresentar, nos hospitais portugueses o Cartão Europeu de Saúde que lhes permite imputar as respetivas despesas ao SNS. Sol na eira e chuva no naval: recebem o preço da apólice e afastam as obrigações que, nela, assumiram. Assim vai o mundo dos negócios!

Estão a ser tomadas, em Espanha, importantes medidas para obviar ao despudor desta gentalha. Por cá ninguém se indigna, porém, e, pior, escrevem-se pareceres masoquistas a defender esta burla.

Pobres doentes do meu país: o vosso destino não tem de passar pelo medo e pela perda da vida à míngua de recursos. Por isso vos anuncio que a H. L. P. Health & Leisure Portugal -  Associação para a Promoção do Turismo de Saúde, instituição sem fins lucrativos, vai apresentar queixa à Comissão Europeia contra esses espertos e denunciar a situação ao Tribunal de Contas. E iremos até ao Tribunal de Justiça da União Europeia se o Governo português não alterar rapidamente os procedimentos tradicionais, característicos de um país subalterno.


É o nosso compromisso.

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