sexta-feira, 20 de julho de 2012

O FUTURO É DOS PORTUGUESES


É no estrume do Estado que tudo providência a todos – sobretudo aos dependentes de certos partidos políticos – que se gera a mediocridade e que soçobram os melhores.


O melhor dos mundos é o nosso, porque somos nós próprios que o podemos conceber e realizar.

Indigna-me, por isso, ouvir dizer: “Isto só podia acontecer em Portugal”, “Portugal é um país de corruptos”, “Lá fora é que é bom”, “Os portugueses não prestam para nada”, e frases semelhantes.

Não é verdade, desde logo. Não há povos ou nações quimicamente puros (embora haja no história dramáticos momentos em que alguns nisso acreditaram). Em qualquer país há bons e maus governantes, bons e maus governos, corruptos e malandros, empreendedores e oportunistas. Não se entende, pois, este masoquismo nacional. E nisto não vai nenhuma desculpa relativamente à mediocridade reinante que deverá ser apontada e desmascarada (bravo! D. Januário Torgal Ferreira) sobretudo por quantos, de boa-fé, tenham ideias e vontade de servir genuinamente o país mas não queiram medrar nos esconsos vãos dos partidos que temos – o grande cancro da nossa democracia.

Admita-se, porém, por mero exercício de reflexão, que, de facto, nós, portugueses somos uns enfezados. Ora mesmo aí só de nós nos poderíamos queixar porque nos teríamos posto a morrer em vez de abraçar a vida, lutar pelos nossos direitos, conquistar os caminhos do futuro.

Há um aspecto decisivo que vem mesmo a talhe de foice e que tem marcado a nossa mentalidade. É que exigimos sempre tudo ao Estado como se ele fosse o nosso pai. E quando digo tudo, é tudo: até quando chove lhe exigimos sol, e quando faz sol lhe exigimos chuva – ou, o que é o mesmo, subsídios para a falta de sol ou da chuva.

É aqui, no estrume do Estado que tudo providência a todos – sobretudo aos dependentes de certos partidos políticos – que se gera a mediocridade e que soçobram os melhores.

Apresento um exemplo. É inegável o valor de qualquer investimento na área cultural não sendo preciso argumentos para o defender. Daqui resulta que qualquer agente ou grupo que a tal se dedique – com valor ou sem ele – passa, em Portugal, o tempo a berrar por subsídios do Estado e se eles não vêm a paisagem cultural desertifica-se. Nos Estados Unidos, porém, o Estado pouco disponibiliza ao sector – e não se diga que a cultura nesse país não é fascinante. Aí é a sociedade que financia, através dos instrumentos do mecenato, aqueles que entende merecem apoio. E para o merecer os peticionantes têm que mostrar o que valem e não, apenas, colocar-se na linha de partida.

Nós, portugueses, não somos piores (talvez não sejamos também melhores) do que outros povos, mas estamos habituados a fiarmo-nos mais no Estado do que nas pessoas. E quando o Estado está capturado por certos interesses obscuros – e está cada vez mais – não é de esperar nada de bom.

A afirmação da liberdade, da dignidade e da força dos portugueses tem de ser configurada não no colo do Estado, mas contra o Estado.

O neoliberalismo que avança sem rédeas na sociedade e também já tomou conta do nosso país, apesar das suas políticas, por vezes dramáticas e desumanas, parece poder ter o condão de chamar à razão e à acção muitos daqueles – ricos, pobres e remediados – que dizem mal de tudo, mas nada fazem, eles próprios, por si e pelo seu país.

Seja como for, o debate sobre as funções e a amplitude do Estado está entre nós. Pena é que não haja cidadãos à altura do desafio e disponíveis para nele entrar.

Temos medo de crescer. A nossa medida é a do “Portugal dos pequeninos”. Mas o futuro começa hoje.

Sem comentários: