Pensava que as “Novas
Oportunidades” tinham ido parar ao baú das “velhas oportunidades” e não se
falava mais no assunto. Enganei-me.
A óbvia
necessidade de qualificação dos portugueses levou o Governo de José Sócrates a
lançar um programa para adultos que
ficou conhecido pela designação “Novas Oportunidades”.
Muitos o
utilizaram e bastantes dele retiraram proveito, por entre as habituais
trafulhices de alguns que dele se aproveitaram para enriquecer à custa do
dinheiro fácil do Estado. Não ignoro que, por encomenda do Governo de Passos
Coelho, o Instituto Superior Técnico procedeu a uma avaliação dos resultados
desse programa e concluiu pelo seu reduzido efeito nomeadamente na
empregabilidade e nos salários. As conclusões dessa encomendada avaliação foi
muito contestada pela associação representativa dos profissionais implicados na
sua implementação e nesse ensino que qualificaram o estudo (avaliação) como “enviesado”,
um “embuste”, “ideologicamente preconceituoso”, e mais ainda. A habitual
questão partidária de saber quem lava mais branco…
A partir deste
breve histórico eu tinha concluído que as “Novas Oportunidades” tinham ido
parar ao baú das “velhas oportunidades” e não se falava mais no assunto.
Enganei-me.
Por um lado, mudado
o nome, o programa continuou, agora na linha da tabuada que orienta o atual
governo, alegadamente direcionado para a formação profissional – o que, até, me
parece acertado, mas não suficiente, para eliminar, como lixo, o programa do
anterior governo. Por outro, vim a constatar a profunda paixão que alguns dos
atuais donos do poder mantinham pelo defunto programa. Afinal o espírito das
“novas oportunidades” paira sobre nós!
Claro que na
base deste escrito está o “fenómeno” que dá pelo nome de Miguel Relvas (vem aí
uma queixa crime, quem me vale?). O seu caso representa, com efeito, o regresso
do espírito das novas oportunidades. Refletindo melhor: o espírito das “oportunidades
do costume”, aquelas a que só têm acesso os poderosos, os espertos, os que correm
mais ou falam mais alto. Os donos dos partidos políticos, afinal, e os seus
cúmplices. Como professor universitário que sou há mais de trinta anos, por mim
também passaram alguns caciques políticos, pobres ignorantes, mas ilustres
distribuidores de prebendas e favores que, à custa disso, lá iam tirando os seus
cursos. Um dia voltarei a este assunto e com nomes…
A Universidade
Lusófona tem o direito – e tem competência – para atribuir títulos e graduar os
seus estudantes. E não duvido por um segundo que Miguel Relvas, enquanto
comerciante, (na nomenclatura jurídica), e, também, como jurista com loja de
advogado aberta é uma sumidade. Mas não ficaria mal à Lusófona demonstrar a
genialidade do rapaz. Estou certo que o faria sem dificuldade e, não o fazer, é
um erro crasso. Eu próprio tenho lido e ouvido, em muitos quadrantes, que o seu
saber e experiência em alguns setores – planificação fiscal internacional
(off-shores), contratos difíceis e financiamentos fáceis, consultoria de
negócios, joint-ventures transnacionais e atividades similares – são
inatingíveis pelo comum dos mortais. E até deixo de lado “outros saberes” ligados
ao ditado “o segredo é a alma do negócio”, o que, no seu caso, é uma
extraordinária mais valia.
Uma coisa não
percebo, porém. Porque é que “eles” querem todos ser engenheiros e doutores?
Não perceberam, ainda, que nesta sociedade fluida, complexa e de alto risco –
mutável a todo o instante -, esse “canudo” não significa nada, salvo se assente
numa forte personalidade, na vontade de vencer e em espírito de sacrifício?
Deixem de ser provincianos,
todos vós, Sócrates e Relvas, deste tempo de vésperas. Sejam grandes e
inteiros, sejam autênticos, nada exagerem nem excluam do que são, ponham tudo o
que são no mimo que fazem (Fernando Pessoa/Ricardo Reis).
“Ó glória de
mandar! Ó vã cobiça”…
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