quinta-feira, 22 de setembro de 2011

A CRISE ESCONDIDA

Quem não tem já nada a perder, pode levar à perdição toda a sociedade.

A crise actual é uma bomba ao retardador que ainda não mostrou, sequer, todos os seus efeitos sobre o emprego e o nível de vida das famílias. Na verdade, as repercussões da profunda recessão, em que vamos mergulhando, sobre o emprego fazem-se, sempre, sentir com um certo desfasamento no tempo. De igual modo, existe também um lapso de tempo, maior ou menor, entre o aumento do desemprego e o crescimento do número de necessitados de prestações sociais.

Ora, é de prever que a situação dos desempregados vá tornar-se cada vez mais crítica à medida que se prolonga a crise e é, por isso, urgente reagir, desde já, a esta tragédia social que abalará cada vez mais a sociedade pois, sem novas medidas de solidariedade, é a própria coesão da sociedade, no seu conjunto, que vai ficar ainda mais fragilizada, podendo, mesmo, vir a ser a pólvora que detonará a revolta social e as suas imprevisíveis consequências políticas.

Perder o emprego é perder os rendimentos da actividade que lhe está associada. E mesmo que o sistema de protecção social preveja redes de segurança, esses rendimentos de substituição não permitirão manter o mesmo nível de vida. Além de que não são eternos.

Os tão apregoados “brandos costumes” dos portugueses não se manterão, decerto, ao chegar mais exclusão social, e, até, a fome. Ora já estão reunidas todas as condições para que, mais dia, menos dia, tal momento aconteça. Seria bom, pois, que os responsáveis políticos não ignorassem, nas suas decisões, que, quem não tem já nada a perder, pode levar à perdição toda a sociedade.

Vivemos numa sociedade que é essencialmente consumista, que transferiu os seus valores de ideais para objectos, para o imediato, para o virtual. E não é fácil – mas é necessário – voltar atrás, à vida honesta (viver de acordo com as nossas possibilidades), ao respeito pelos outros (não lucrando gananciosamente à custa dos nossos semelhantes), à justiça (na distribuição dos rendimentos, na sua taxação e nos sacrifícios que são pedidos pelo Estado).

É puramente ilusório acreditar que alguém nos virá tirar do atoleiro em que estamos. Mais realista, de resto, será pensar que muitos dos nossos parceiros, na União Europeia e fora dela, anseiam pela continuação da crise portuguesa (e de outros países) com o que vão ganhando fortunas. Sublinhe-se, no transe, que entre os “remédios” que os nossos “amigos” da “troika” nos impuseram tão generosamente está a alienação do capital das nossas maiores empresas públicas, com o que, no final, nos deixarão como servos de gleba do século XXI.

A saída da crise é dificílima, ninguém o ignora.

Sem comentários: