quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

O POLVO BPN


Às vezes há silêncios muito comprometedores…

O BPN é, na sua essência, uma criação do PSD sendo que essa insana criatura envolveu nomes muito sonantes deste partido e, mais ainda, dos seus apoiantes e, também, de alguns dos habituais oportunistas da praça que estão sempre do lado dos poderes, sejam eles quais forem.

Cavaco Silva não precisa de “nascer duas vezes” para ser correlacionado, também, com alguns dos atos e fatos de alguns dos seus “ajudantes” nos vários governos a que presidiu e no partido que durante mais de uma década dirigiu. Nas suas altas funções não poderia (nem pode) escolher ficar com o que lhe interessa e repudiar o desagradável. E estou certo que a sua superioridade moral não lho consente apesar de, na política, a verdade ser um poliedro. Nós somos, todos, de algum modo, sempre, responsáveis por quem elegemos para junto de nós, a quem damos responsabilidades e abrimos as portas do futuro, nomeadamente nos negócios. Não irei ao ponto de chamar aqui a depor o dito popular de que “quem cala consente”, porque, na verdade quem cala não diz nada. Mas às vezes há silêncios muito comprometedores…

Acontece, também, que o BPN não é uma criatura qualquer, desenraizada da política e, sobretudo, independente de uma constelação de negócios, empresas e interesses politico-privados sem conta. Desde logo nada seria sem a holding que o abrigava, a SLN, veículo de negócios do polvo que tudo isso constituía. Ora muito me surpreende que o BPN tenha sido nacionalizado – isto é, os prejuízos – e que aquela holding continue, embora com outro nome!, a passar completamente ao lado da tragédia que o BPN fez explodir nas finanças públicas e, logo, nos bolsos de todos os contribuintes.

Sou jurista e sou contribuinte pelo que o que se me apresenta aos olhos não me deixa indiferente, até porque vou, também, ter de pagar o custo do díscalabro do BPN sem nada receber dos lucros da SLN. E, aqui, há (diz-se) muito dinheiro, muito património, muita negociata escondida e, sobretudo, acionistas a apodrecer de ricos com um passado pouco lisonjeiro, tudo consagrado por uma incompreensível desconsideração juridica de que estamos perante um grupo económico.

Cavaco que, modestamente, sempre se apresentou como alguém que nunca se engana e raramente tem dúvidas, talvez não tenha reparado que os milhafres são os mesmos na holding e no banco e, outros, com poderes governativos e de regulação terão esquecido, também, esse fato.
Ou não lhes convém abordá-lo neste tipo triste de endogamia em que sobrevivem os políticos.

O buraco sem fundo que um bando de oportunistas, disfarçados de banqueiros e de empresários de elite, gerou nas finanças públicas merecia uma posição firme de todos os que não vivem à sombra dos conúbios partidários.

Em primeiro lugar de Cavaco Silva.

Mas isso não seria suficiente. É que não se compreende que quem detem o poder político e, alegadamente, se pretende impoluto e se diz paladino na luta contra a corrupção não dê um passo em frente e reclame a nacionalização da ex-SLN. Assim, o dito buraco do BPN poderia ser, ao menos parcialmente, tapado com o pelo do mesmo cão.

Coragem, senhores da política!

E para terminar, neste contexto e no início de um novo ano, deixo o registo de um pensamento do Prof. Ernâni Lopes, recentemente falecido, mas que jamais será esquecido:

Onde está: Substituir por:

Facilitismo - Exigência

Vulgaridade - Excelência

Moleza - Dureza

Golpada - Seriedade

Videirismo - Honra

Ignorância - Conhecimento

Mandriice - Trabalho

Aldrabice - Honestidade

Para recordar. Para recordarmos todos os dias. Para construir um novo

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