quarta-feira, 10 de março de 2010

UMA GUERRILHA TRISTE


Os cidadãos não suportam mais tanta litigiosidade personalizada entre políticos, lóbis partidários e seus sequazes empresariais principescamente instalados nas administrações de sociedades de capitais públicos.

Só por ignorância, ou com reserva mental, se poderá escamotear uma perniciosa característica que marca indelevelmente a situação política portuguesa na actualidade: vivemos em plena campanha eleitoral em cada dia que passa. Uma campanha “anormal”, mas real, fora do calendário, mas acirrada. Sem dificuldade se poderá, de facto, concluir, de tudo o que se tem visto e lido, que a relação entre o governo e as oposições é de guerrilha eleitoral contínua, sem fim à vista e sem olhar a meios entre os quais, o mais grave é, incontestavelmente, a politização da Justiça.

Ora esta situação não é “normal”, nem de bom augúrio.

Aceita-se que os momentos eleitorais sejam de combate político aceso e que, então, alguns exageros sejam cometidos. Mas, conhecidos os resultados da votação popular, pareceria curial que os derrotados não se barricassem no Parlamento daí transformando a vida pública numa permanente guerrilha guiada pela mera vontade de desforra e alheia no bem do país e da democracia. Não é que se defenda, porém, que as oposições prossigam estratégias moles, frágeis e medíocres pois, ao contrário, o seu papel será, ou deveria ser, o de alcançar o poder pela mais-valia das suas posições e qualidade das propostas políticas.

Face ao deserto de ideias novas, de doutrinas coerentes ou, simplesmente, de alternativas pragmáticas para a resolução dos gravíssimos problemas do país, instalou-se no espaço público a mais estúpida e desabrida campanha política, uma campanha ad hominem, contra a pessoa do Primeiro Ministro, em que há muito já todos perderam a honra e a dignidade e se deixaram enlameadas instituições e valores sem os quais a vida em sociedade é uma mera selvajaria.

Há que pôr cobro, com urgência, a tanto desvario!

Os cidadãos não suportam mais tanta litigiosidade personalizada entre políticos, lóbis partidários e seus sequazes empresariais principescamente instalados nas administrações de sociedades de capitais públicos.

A sociedade civil está exasperada, farta de disputas sobre temas marginais e de ataques e respostas, entre caciques de aldeia, sobre “quem lava mais branco”.

É neste contexto que o Orçamento de Estado e o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), que deveriam balizar solidamente a economia e as finanças do país para o futuro e, por óbvias razões, obter um consenso alargado entre as forças políticas nacionais, não passam de simples espantalhos, sem alma nem vigor, destinados a iludir, uma vez mais, a Comissão Europeia e as agências internacionais de notação financeira, tanto quanto os tontos que acreditam na política à portuguesa.

Sobra, aos que mandam por cá, perícia no domínio da bisbilhotice e do mexerico e falta-lhes dimensão e coragem – até como simples homens. E é por isso que se acoitam em nebulosas intrigas caseiras em vez de tratar do que verdadeiramente contará para o nosso destino, como é o caso da necessidade de reduzir drasticamente os ritmos do consumo público e privado de modo a nivelá-los com a realidade da nossa economia, tarefa crucial para vivermos com honradez e não como pedintes crónicos.

Basta de guerrilha sem sentido útil. E se esta gente a quem se deu, nas urnas, a legitimidade para nos representar não é já credível nem fiável, o melhor é irmos de novo a votos. Manter o país a arder em lume brando é que não poderá ser uma estratégia aceitável e, consequentemente, se o governo não se demite que as oposições apresentem uma moção de censura. Já.

Sem comentários: