quarta-feira, 18 de junho de 2014

UM OLHAR SINGELO SOBRE O AUTO-EMPREGO E O FUTURO DA NOSSA ECONOMIA



O mercado de trabalho mudou nos anos recentes e vai, decerto, mudar ainda mais deixando cair paradigmas tradicionais vindo dos tempos da Revolução Industrial.

Acredito profundamente que os portugueses são empreendedores por natureza. É, de resto, em todo o lado, reconhecida a sua capacidade de “desenrascanço”, que será, porventura, uma expressão seminal e inorgânica de inovação, económica e social, hoje tão valorizada e ambicionada.
Aos jovens deste tempo de crise, para a ela sobreviverem e encontrarem o seu lugar no mundo do trabalho, mais do que dar emprego parece-me ser, cada vez mais, decisivo facilitar-lhes o caminho e a prática do empreendedorismo, nomeadamente apoiando a criação de empresas startup, às quais se haverá de conferir incentivos legais e fiscais e proporcionar adequado financiamento. Há de, estou certo, passar por aqui grande parte da economia do futuro, do fracasso ou do sucesso da economia portuguesa. Se olharmos ao nosso redor, designadamente para o que está a acontecer no Reino Unido ou nos USA, talvez se iluminem outros, mais prósperos, caminhos (Cf. PROSPECT, Junho de 2014).
O mercado de trabalho mudou, dramaticamente para muitos, nos anos recentes e vai, decerto, mudar ainda mais deixando cair paradigmas tradicionais vindo dos tempos da Revolução Industrial. Valerá a pena, então, prospectivar o que parece estar a tornar-se inevitável: cada qual ser o seu próprio empregador (self-employment).
O emprego para a vida, do fordismo, já não está nas nossas economias e a flexibilidade do trabalho (cada vez menos flexigurança) não é caminho sem riscos. Há que atentar, então, também, nos possíveis que o auto-emprego configura, ou poderá configurar, no plano político, económico e jurídico.
Arrimando-me no artigo (Make your own work) da referida revista, sublinho, aqui, algumas razões para se aprofundar a validade desta tendência entre nós.
Desde logo a crescente longevidade saudável que hoje marca o nosso tempo e de que resulta que, em idade outrora de reforma, muitos estejam ainda em plena forma física e intelectual. Juntando isso à redução generalizada dos montantes das pensões de reforma, encetar uma actividade em regime de auto-emprego é, por vezes, uma necessidade de mera sobrevivência decente. Além disso, algumas empresas poderão ter a maior conveniência em contratar, ocasionalmente, serviços a reformados, para fazer face a imprevistas necessidades acrescidas de trabalho. Se, para tal, há outras técnicas possíveis, o recurso aos auto-empregados não deixará de ser uma outra hipótese. Também quanto a ex-funcionários públicos, em momento de emagrecimento da administração pública, se poderá perspectivar a sua contratação ocasional enquanto donos do seu emprego, para diversas tarefas públicas (caso, por exemplo, dos serviços de saúde). Por outro lado, face ao progresso das novas tecnologias, o trabalho a partir de casa, fora do regime do contrato de trabalho e na base de actividade em regime de auto-emprego, pode servir melhor todas as partes envolvidas. Acresce que a promoção do empreendedorismo e respectivos incentivos, que está na ordem do dia de muitas políticas públicas, é um factor de promoção do auto-emprego, enquanto, ao contrário, a alegada rigidez do Direito do trabalho desmotiva, pretensamente, a criação de postos de trabalho. A optimização fiscal (e, decerto, a evasão fiscal) é um factor relevante também na tendência em análise. E não se esqueça ainda, além de outros factores, que o auto-emprego pode ser, como em certos casos já é – um espaço fundamental e, até, o berço de novas indústrias criativas.
            O arrazoado que aqui deixo poderá, até, parecer interessante, mas há que ser assertivo – tudo isto tem a ver com uma nova economia e, sobretudo, entre nós, com uma outra, diversa, mentalidade que exige espírito de conquista, força de vontade… e que seja esconjurada a inércia de tudo esperar do Estado.
            O mundo já está noutra Era. Nesta, há que pensar fora dos quadros tradicionais até para se respirar. Nada mais vai neste apontamento do que, pois, um desafio à criatividade de quem estiver interessado.

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