quarta-feira, 17 de julho de 2013

CONSTRUIR UM NOVO PORTUGAL, TAMBÉM PELA “EXPORTAÇÃO” DA EDUCAÇÃO

O financiamento do sistema de educação em Portugal atravessa dificuldades dramáticas, mas é inegável nele se integram profissionais da excecional qualidade intelectual e não faltam instituições de ensino competitivas ao nível do que de melhor há no mundo.


Aproveitei o solstício de verão para olhar de outro sítio para a crise que nos atormenta – de um ponto de vista menos pessimista e interpelando, sobretudo, as oportunidades de construirmos um novo Portugal. Na última crónica referi-me, por isso, ao Turismo de Saúde e Bem Estar. Agora deixo umas breves linhas sobre educação.

Assomou-me à memória, nessa reflexão, recorrentemente, Agostinho da Silva e a sua fé numa missão especial de Portugal no mundo: a de construir um Quinto Império cultural (já oiço vozes a clamar: loucura! - mas deixem-me ir até ao fim). Recordo, em particular, uma frase “A Europa esgotou-se no Poder e temos, agora, de partir para outra fórmula que é cada homem ser aquilo que é” (in Agostinho da Silva, Dispersos, p. 128). Loucuras vulgares, decerto…

Face a todos os problemas que surgem ao evocar esse termo, polisémico e de largo espectro, é na perspectiva de sistema que vão ancorar estas breves linhas. E com os olhos, tanto quanto possível, virados para o amanhã. Convoco, para tanto, alguns conceitos e ideiais da chamada “economia de educação”, designadamente os aspectos “micro económicos” do sistema educativo.

O financiamento do sistema de educação em Portugal atravessa dificuldades dramáticas, mas é inegável nele se integram profissionais da excecional qualidade intelectual e não faltam instituições de ensino competitivas ao nível do que de melhor há no mundo.

Porquê, então, a presente crise?

Creio que se tem, olhado excessivamente para o dia-a-dia ou, então, para as grandes filosofias, deixando, porém, de lado coisas simples em busca de respostas complexas que nada têm resolvido.

Anda na boca de muitos a ideia de exportação do Ensino Superior – atrair alunos estrangeiros para as instituições de ensino supeior portuguesas. O objetivo é meritório e, mais do que isso, estratégico também para a economia nacional. Outros países já descobriram essa mina há muito tempo. Acontece, porém, que, deixando nós tudo ao “desenrascanso” e ao voluntarismo de alguns, o mundo ignora Portugal também como destino para estudar. E, os poucos que não ignoram chegam cá e têm aulas em “globish” – o inglês da praia e das discotecas.

Ora para isso iam para os EUA ou para o Reino Unido!

Defendo, pois, que se valorize a língua portuguesa nesse ensino, deixando de lado o provincianismo tradicional. Aulas em português, por professores portugueses e, eventualmente, em outras línguas (repito, outras) por professores eméritos de outras nacionalidades, se for oportuno.

Não ignorem, o potencial económico de língua portuguesa – atual e futuro. Pensem e informem-se, senhores do poder. Leiam, por exemplo, esse livrinho fundamental de Luís Reto (“Potencial Económico da Língua Portuguesa”, Texto, 2012), além dos já escritos de Agostinho da Silva!

E para concluir, que o espaço é curto, haverá alguém disponível para apoiar a institucionalização de um projeto de mobilidade de estudantes de todos os países de língua portuguesa, algo tipo “ERASMUS”?

A Fundação Afro-Lusitana (que a irresponsabilidade que nos governa quer extinguir sem contraditório) vai tentar fazê-lo. E, também, organizar uma Universidade de Verão para esses estudantes.


Voltarei a estes temas um dia.

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