sexta-feira, 7 de setembro de 2012

E TUDO O FOGO LEVOU


Apagar incêndios é amortalhar a vida. Na floresta como na política. Nada se constrói nas cinzas ainda que nelas medrem muitos e grandes interesses.

 Os incêndios deste verão não destruíram apenas mato, pinheiros, eucaliptos e outra vegetação. Quem se quedar por estes aspetos, mesmo considerando alguns danos pessoais e a vida, até, de alguns que o fogo levou não verá senão a espuma da vida. É que o país também está a arder, ora em lume brando, ora em altas labaredas.

As chamas alastram por montes e vales abandonados onde os homens desistiram de viver. Abandonada a cultura dos campos, o tratamento da floresta, a reprodução do gado, não ficaram horizontes de sobrevivência nesses espaços. Ninguém sabe o destino que lhes caberá e, pior, ninguém se preocupa com esse futuro.

Portugal vai ardendo nestes fogos florestais mas, também, com eles, no mais fundo da sua identidade. Os fogos destroem a natureza física, mas, também, outros destroem as esperanças de qualquer futuro para a nossa Pátria. Fecham hospitais, escolas, tribunais e desaparecem outros serviços públicos na base de critérios financeiros muito discutíveis e de critérios políticos deprimentes. É onde menos se justifica que mais precisa é a presença do Estado, se não for por outras razões – que são fortes – pela ideia simples de que é preciso que a política sinalize os caminhos do futuro. E estes vão passar, mais cedo ou mais tarde, pelo país real, de Bragança a Sagres, da Figueira da Foz a Vilar Formoso e, não, pelo desditoso centralismo gerido a partir da capital do que foi um império mas já deixou de o ser há muito. E ninguém ainda o percebeu.

O tempo presente é vivido sobre o “império do efémero” (Gilles Lipoversky) e da apoteose do presente ignorando-se o passado e descuidando-se o futuro. Só vale o que gratifica imediatamente. A urgência comanda a vida que está nas mãos dos interesses de mercados financeiros globais e já quase não nos pertence. Na política isto expressa-se no oportunismo das decisões baseado na ideologia do curto termo. A urgência e a exceção têm prioridade sobre tudo e sobre todos e os cidadãos silenciosos, sobretudo até anestesiados pelo medo, já são meros figurantes num filme que não é deles, nem para eles.

Apagar incêndios é amortalhar a vida. Na floresta como na política. Nada se constrói nas cinzas ainda que nelas medrem muitos e grandes interesses.

Quanto custaria ao erário público prever e prevenir as catastróficas ignições de cada verão? E quanto custa combater os fogos? Uma nação digna faria contas, mas a honra escasseia no seio do poder. A honra e a competência porque, extinto o fogo (e alguns fogos fátuos) a verdade é que se torna claro que é a mediocridade gananciosa que nos governa em conluio com agiotas globais.

É uma dor de alma ver partir para a diáspora tantos dos melhores deste país – e que tanto dinheiro nos custou para se formarem – e, outros, que ainda vão ficando, serem ostracizados pelo simples facto de terem ideias e saber mas não terem um qualquer cartão partidário!

O fogo tudo leva.

O quotidiano de austeridade, sem sentido e sem esperança em que vivemos é um mero jogo de fortuna e azar. Eu quero uma Lei eleitoral autárquica só para mim!... e eu quero vender a RTP ao Eduardo dos Santos… eu tenho que sair do ministério às 5 h para acompanhar (à sucapa) o meu escritório…

Com estes filhos da nação, não haverá nação que resista.


                                               

Sem comentários: