Apagar incêndios é
amortalhar a vida. Na floresta como na política. Nada se constrói nas cinzas
ainda que nelas medrem muitos e grandes interesses.
As chamas alastram por montes e vales abandonados onde os homens
desistiram de viver. Abandonada a cultura dos campos, o tratamento da floresta,
a reprodução do gado, não ficaram horizontes de sobrevivência nesses espaços.
Ninguém sabe o destino que lhes caberá e, pior, ninguém se preocupa com esse
futuro.
Portugal vai ardendo nestes fogos florestais mas, também, com eles, no
mais fundo da sua identidade. Os fogos destroem a natureza física, mas, também,
outros destroem as esperanças de qualquer futuro para a nossa Pátria. Fecham
hospitais, escolas, tribunais e desaparecem outros serviços públicos na base de
critérios financeiros muito discutíveis e de critérios políticos deprimentes. É
onde menos se justifica que mais precisa é a presença do Estado, se não for por
outras razões – que são fortes – pela ideia simples de que é preciso que a
política sinalize os caminhos do futuro. E estes vão passar, mais cedo ou mais
tarde, pelo país real, de Bragança a Sagres, da Figueira da Foz a Vilar Formoso
e, não, pelo desditoso centralismo gerido a partir da capital do que foi um
império mas já deixou de o ser há muito. E ninguém ainda o percebeu.
O tempo presente é vivido sobre o “império do efémero” (Gilles
Lipoversky) e da apoteose do presente ignorando-se o passado e descuidando-se o
futuro. Só vale o que gratifica imediatamente. A urgência comanda a vida que
está nas mãos dos interesses de mercados financeiros globais e já quase não nos
pertence. Na política isto expressa-se no oportunismo das decisões baseado na
ideologia do curto termo. A urgência e a exceção têm prioridade sobre tudo e
sobre todos e os cidadãos silenciosos, sobretudo até anestesiados pelo medo, já
são meros figurantes num filme que não é deles, nem para eles.
Apagar incêndios é amortalhar a vida. Na floresta como na política. Nada
se constrói nas cinzas ainda que nelas medrem muitos e grandes interesses.
Quanto custaria ao erário público prever e prevenir as catastróficas
ignições de cada verão? E quanto custa combater os fogos? Uma nação digna faria
contas, mas a honra escasseia no seio do poder. A honra e a competência porque,
extinto o fogo (e alguns fogos fátuos) a verdade é que se torna claro que é a
mediocridade gananciosa que nos governa em conluio com agiotas globais.
É uma dor de alma ver partir para a diáspora tantos dos melhores deste
país – e que tanto dinheiro nos custou para se formarem – e, outros, que ainda
vão ficando, serem ostracizados pelo simples facto de terem ideias e saber mas
não terem um qualquer cartão partidário!
O fogo tudo leva.
O quotidiano de austeridade, sem sentido e sem esperança em que vivemos é
um mero jogo de fortuna e azar. Eu quero
uma Lei eleitoral autárquica só para mim!... e eu quero vender a RTP ao Eduardo
dos Santos… eu tenho que sair do ministério às 5 h para acompanhar (à sucapa) o
meu escritório…
Com estes filhos da nação, não haverá nação que resista.
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