sexta-feira, 8 de junho de 2012

PORTUGAL, SA

Levem, levem todos, isto não custa nada, é dinheiro do Estado!

Isto a que se chama Portugal já não é um país, muito menos uma nação, quase já não é um Estado. É, a muitos títulos e crescentemente, uma sociedade comercial.

Uma sociedade anónima.
Integra-se numa “holding”, em desagregação, que tem a denominação de União Europeia.

Os donos do capital dessa sociedade não têm nome na sua maioria (as acções são ao portador) e na assembleia geral apenas estão presentes uns insignificantes, pequenos accionistas sem qualquer poder de decisão que imitam a decisão de outros. Os outros órgãos sociais, em geral, são integrados por uns homúnculos, serventuários, atentos e obrigados, de poderes obscuros, obscenos e não eleitos.

Esclareça-se a metáfora.

Temos formalmente um Governo apenas vagamente, de resto, resultante da vontade dos portugueses (os insignificantes accionistas). Funciona, na realidade, pouco mais do que como uma qualquer “escola de negócios” onde uns preparam o futuro e outros, menos discretos, vão  desviando, para os seus bolsos (gabinetes vários, consultorias…), os lucros que haveriam de ser dos accionistas, ou antecipam-nos, mesmo, para os amigos (as parcerias público-privadas, p. ex.) – que os hão-de retribuir com juros altos quando aqueles deixam o palco. Espertos que sempre foram – de outro modo não tinham lá chegado – mantêm os seus negócios privados. Uns através de testas de ferro provisórios, outros, mais descaradamente, acumulando com a sua tradicional actividade lucrativa: são os governantes em part-time colhendo o melhor dos dois mundos.

Dinheiro público para fazer fortunas privadas.

Impunidade judicial quase total.

A corrupção no mais alto nível com o beneplácito dos partidos – a mais frequentada, aliás, escola da corrupção.

Levem, levem todos, isto não custa nada, é dinheiro do Estado!

Austeridade? Sim, para os que apenas dispõem da sua força de trabalho para vender. Tendo cortado nos salários dos trabalhadores da administração pública (incluindo os subsídios de férias e de Natal) – os outros trabalhadores não devem esperar melhor sorte no futuro próximo – com isso se desrespeitaram obrigações contratualmente assumidas. Inconstitucional? Claro que não, dizem os que, (des)governando este rectângulo a mando de terceiros, pouco mais sabem do que uma rudimentar tabuada. Mas quanto a cortes nos pagamentos da Fazenda Pública aos oportunistas da banca, da construção civil e do imobiliário que desgraçaram, para muitos, muitos anos, as contas cá da terra, isso já será absolutamente inconstitucional. É que estes contratos (nomeadamente os relativos às parcerias público-privadas) tem de ser cumpridos! Seria inconstitucional reduzir os valores a pagar a essa gente…

Temos o direito de nos interrogar. Para que serva, para que vai o nosso dinheiro, o dos impostos? Urge que as pessoas sérias deste país – e ainda são muitas! – peçam contas e exijam que se faça luz sobre o funcionamento de um sistema que autoriza legalmente, ou, pelo menos, consente, a obscena transferência da riqueza pública para alguns privados.

Os favoritos do regime, neste teatro de sombras, em conluio com os que ocupam o poder político privatizam, todos os dias, o que é dos portugueses e vale alguma coisa, enquanto estadualizam (socializam) as perdas. Até quando?

Impera, neste arremedo de democracia em que se vive, sem consequências, um sistema incestuoso onde os poderes políticos – e os que comem à sua mesa, os poderes económico e financeiro, nacionais ou globais – se misturam e misturaram os seus interesses e a sua ganância com os nossos impostos.

A austeridade, a correcção do défice público e o pagamento da dívida do Estado é o outro nome, hoje, para enriquecer, mais ainda, alguns em detrimento de todos.

É porque estamos de joelhos que isto acontece. E não virá muito longe o tempo em que, tudo roubado, os do costume virão gritar a terreiro: a partir de agora é proibido roubar.

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