As crises deste tempo, nas suas múltiplas manifestações, pretendem, afinal proceder infamemente e sobretudo a uma outra distribuição de riqueza.
Não ignoro que já foi dito e redito que se propaga na Europa – e, em geral, no mundo, ainda que subrepticiamente – uma luta de criptopoderes, não eleitos, contra o ideal democrático e para benefício exclusivo de interesses financeiros e da nomenclatura que os sustenta e, por eles, é sustentada. Desculpem que insista no tema, pois.
Não ignoro que já foi dito e redito que se propaga na Europa – e, em geral, no mundo, ainda que subrepticiamente – uma luta de criptopoderes, não eleitos, contra o ideal democrático e para benefício exclusivo de interesses financeiros e da nomenclatura que os sustenta e, por eles, é sustentada. Desculpem que insista no tema, pois.
A barbárie está às portas, porventura já instalada mesmo, na, dita, civilização ocidental e nem precisa de um qualquer “Cavalo de Tróia”. É olhar a História com olhos de ver e não focalizar a reflexão, apenas, no hiato dos últimos 50 anos… A União Europeia é já pasto de chamas e o fogo promete crescer.
Não é o momento, este, porém, de problematizar a natureza humana, ou seja, se a sociabilidade do Homem é uma tendência natural e originária ou decorrente da sua evolução. As respostas seriam várias mas, entre muitas, talvez mereça particular atenção, nestes tempos de crise, o pensamento de Hobbes: em estado de natureza o Homem é mau (homo himini lupus) e só a vida em sociedade pode remediar tal maldade natural. E, acrescento por minha conta e risco, a sociedade que destrói a família, que derruba as protecções de quem trabalha, que ignora a solidariedade, que idolatra o egoísmo e o individualismo, o consumismo e se mercantiliza até à exaustão e tudo submete ao livre jogo dos mercados, nunca poderá trazer ao Homem (e ele também a construiu) os instrumentos para remediar essa maldade.
É muito difícil ser um homem bom numa sociedade que é má.
As crises deste tempo, nas suas múltiplas manifestações, pretendem, afinal – porque provocadas pelos homens – proceder infamemente e sobretudo a uma outra distribuição de riqueza. Prova-o o facto, já incontornável, de, em países como Portugal, ser crescente a desigualdade entre os mais ricos e os mais pobres. E o mesmo se verifica por todo o mundo onde os Estados perdem a soberania e os cidadãos a dignidade.
Não sei onde vai parar esta sociedade de risco e que caminhos novos são possíveis através de uma mudança do actual paradigma. Já estou convencido, porém, que nada será amanhã como é hoje e que só os homens livres – da fome, da angústia, da doença, da ignorância e de tudo o mais que apouca a humanidade - poderão contribuir para que algo mude, sem que tudo fique na mesma.
Dito isto, pego no recente ataque de hackers, ou piratas informáticos, a computadores do Ministério da Administração Interna de que veio a resultar a divulgação no espaço público de dados pessoais de mais de uma centena de agentes de autoridade. É obvio que repudio tal acção contra o Estado e as causas mesquinhas que tal determinaram. Mas não quero ficar no espaço de conforto que habitualmente caracteriza os cobardes e, por isso, retiro aqui o que de bom pode ter uma má acção.
E se esses “técnicos” – porventura a sociedade civil em geral – se tivessem empenhado em interceptar os computadores dos Duartes Lima, Dias Loureiro, Oliveiras e Costa e tantos outros! quando eles, à custa de todos nós (então, hoje e no futuro), fizeram fortunas incompreensíveis, será que as coisas teriam chegado onde chegaram?
Não se trata de um convite a práticas ilegais, mesmo que seja para combater outras, ainda mais ilegais. Mas acredito que a nossa sociedade seria mais justa e solidária e a lei mais eficaz se fossem arrombadas as fronteiras de tantos segredos impostos por lei (sigilo bancário, fiscal, de justiça…) e todos pudéssemos saber como nascem e medram certas fortunas: de políticos, de empresários, de profissionais liberais, sei lá que mais.
A sociedade civil tem, neste âmbito, uma força de que não tem ainda consciência. E estou certo de que se não agir, não será pelos meios processuais comuns (civis ou criminais) que a corrupção acabará e a Justiça triunfará.
Infelizmente.
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