sexta-feira, 14 de outubro de 2011

DA UTOPIA À FRONTEIRA DA POBREZA


A crise económica e financeira atual dá-nos uma oportunidade única de investir na mudança.


Portugal é um frágil país, numa Europa à deriva, no contexto do Ocidente que perde relevância face ao mundo Asiático e Latino-Americano em cada dia que passa.

Sobre nós paira uma crise que é global mas que é agravada por fatores internos em que todos nós, portugueses, temos grandes responsabilidades.

Como já várias vezes assinalou o Prof. Adriano Moreira “a evolução para o Estado Exíguo está em curso” (cf. Adriano Moreira, Da Utopia à Fronteira da Pobreza, INCM, 2011, p. 11). E, também, na mesma obra (p. 14) acrescenta: “Infelizmente, a fronteira da pobreza atravessou o Mediterrâneo e parte do território europeu está por ela abrangido. Portugal não pode ignorar o facto, e tem o direito de esperar do civismo que um conceito estratégico nacional seja finalmente formulado e executado com devoção. Ninguém escolhe o país em que nasce: mas decidir ficar é um acto de amor. E de vontade de reinventar novos futuros”.

É tempo de inventar novos futuros e, também, de impedir a palavra crise de emergir em todo o espaço público e em todas as conversas privadas. O passado já não volta e o presente é onde o futuro poderá enraizar-se em novas primaveras se quisermos, ou seja, se não nos pusermos a morrer.

Todos reconhecem que o nosso tempo é complexo e de grande risco e não tem estadistas à altura dos problemas que o atravessam. Eles continuam a gerir o passado, com medo do presente e sem coragem para inventar o futuro. E é de futuro que precisa a Europa e, em particular, Portugal. Mas não é só isso. Há, por aí, muitíssimos economistas que são também responsáveis pela situação atual e que continuam a perorar, alto e bom som, numa comunicação miserabilista e mercantilizada como nunca antes se viu.

Na verdade, os economistas construíram, nos últimos anos, o quadro inteletual utilizado pelos reguladores financeiros para justificar a sua inação e pelos banqueiros centrais para afirmar que as “bolhas” eram impossíveis.

Os economistas também construíram os modelos sobre os quais se baseiam os bancos centrais para dizer que, para garantir um crescimento duradouro, basta ter uma pequena inflação. Por fim, também contribuíram para a moldagem das ideias dos dirigentes políticos. Os homens políticos não são economistas e deixam-se encantar pelos “sound bites” do momento. Ora, nos últimos 25 anos, os economistas afirmaram que não era necessário regular a finança, e também isso contribuiram para tornar a crise possível. A teoria económica apresenta-se como um mundo auto-suficiente, numa falsa representação da realidade, mas que sobrevive sem prazo.

Ora é urgente tentar mudar a ciência económica e fazer entender aos economistas os limites das suas teorias; que o passado já foi e que é preciso construir o futuro com novos instrumentos. É difícil, mas terá de ser.

A crise económica e financeira atual dá-nos uma oportunidade única de investir na mudança e de substituir uma política sem futuro, de curto prazo, por uma outra, a longo prazo, reflexiva, capaz de enfrentar os mesmos desafios que hoje temos pela frente e de construir um novo horizonte sustentável.

Não creio que, com os partidos que gerem a democracia, em Portugal e na UE, e tendo em conta os extensos e profundos lóbis instalados em conluio com esses partidos, haja alguma possibilidade de transição pacífica.

É preciso pensar a economia como um lugar onde se constrói a vida em conjunto, disse Elena Lasida (Le gôut de L’antre) e, para tal, os economistas não estão preparados. Os políticos atuais muito menos.

Certo, certo é que o que aí vem vai ser desumano.

Indispensável, será, pois, uma mudança em profundidade em quase todos os paradigmas que nos trouxeram até à atualidade. Feita por Homens e para os homens. Como, não sei.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não podia estar mais certo e todos nós temos de assumir a culpa por deixar os políticos chegar a esta situação