quarta-feira, 15 de junho de 2011

ACREDITAR

É preciso ser realista, mas também, acreditar.

Paira sobre a sociedade portuguesa – sobre as pessoas, sobre as famílias, nas empresas – uma inegável desorientação face ao que o futuro nos reserva. Sabemos que o que aí vem trará consigo muitos sacrifícios no plano do nível de vida podendo sacrificar, mesmo, direitos sociais até agora indiscutíveis e com grave risco de exclusão social de muitos cidadãos mais vulneráveis.


Terminado o ajuste de contas eleitoral entre os partidos, o certo é que as Cassandras não se calaram, mas ninguém ainda sabe, com um mínimo de objectividade, a tão anteriormente reclamada verdade sobre o estado do Estado – e parece até que isso já deixou de ser preocupação política! – nem as concretas medidas a que iremos estar sujeitos sob a tutela dos nossos credores internacionais.


Neste contexto, vacilamos entre a autoflagelação e o messianismo, mas não curamos do que está ao nível de cada um mudar. E isso seria, agora, o mais importante. Que pode, pois, cada um de nós fazer para “abrir novos possíveis” (José Gil) no seu espaço específico de actuação?
Poder-se-ia por começar por assumir uma nova exigência ética (política) perante nós e os outros. Este é um aspecto que nenhuma lei, nem autoridade pública nacional ou poder externo, financeiro ou outro, poderá alterar. Só cada um de nós, com efeito, conseguirá, com empenho, contribuir para uma nova, melhor, sociedade civil e uma outra cidadania.


Com a liberdade alcançada em Abril de 74 surgiu um outro espaço público e cresceram as ambições, tanto quanto as nossas ilusões. Consagraram-se na Constituição da República e nas leis que a vieram a densificar direitos económicos e sociais viáveis num Estado rico e numa economia pujante, quando não deixamos de ser precisamente o contrário. A posterior adesão à então CEE, hoje UE, fez-nos convencer, com todo o dinheiro que foi chegando ao país sem qualquer esforço nosso, que éramos ricos e que como tal tínhamos o direito de viver. Enquanto isso, os reais problemas da nossa economia foram escondidos recorrentemente debaixo do tapete.


E chegou a hora da verdade…

Hoje, ninguém consciente das mais elementares condições do país tem uma ideia sobre para onde vamos ou, pior, já desistiu e abalou para outras paragens. E só uma coisa é certa: não somos ricos para manter o trem da vida que levamos.

Tudo isto se passando debaixo dos nossos olhos é compreensível que muitos se sintam derrotados e sem esperança e assim entendem também o país. Somos atreitos a ter pouca auto-estima, a perder a fé com facilidade o que tem sido qualificado, por quem estuda o fenómeno, por neuroticismo ou tendência para a neurose colectiva. Nestas ocasiões seria conveniente olharmos para o mundo e ver a situação de outros povos que enfrentam (ou enfrentaram e venceram) situações porventura piores do as que hoje nós atravessámos. A desgraça atrai mais desgraça e o pessimismo reinante, além de não levar a lado nenhum, pode vir a ter gravíssimas consequências a prazo.

É preciso ser realista, mas também, acreditar. É nas noites mais escuras que se vêm melhor as estrelas.

Há-de surgir uma saída política para um povo, que já foi muito grande no passado, deixar de ter razões para o desespero que legitimamente sente na actualidade. Temos que acreditar que é possível vencer – traçando metas e objectivos a cumprir com rigor e solidariedade nacional. Com sacrifício também.

Por mais noite que faça, o dia há-de voltar.

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