quarta-feira, 13 de abril de 2011

DIZER A VERDADE AOS PORTUGUESES

O que, hoje, os povos civilizados querem é saber os factos, mais do que o juízo de valor que sobre eles faz recair o fanatismo generalizado.

Os partidos, sobretudo os que se situam na oposição, alegam e criticam aos poderes instituídos, sobretudo ao Governo, a falta de verdade. O Governo esconderá a verdade, manipulará a realidade, falseará os dados económicos e financeiros do país, e por aí fora.


Primeira pergunta: e a oposição, apenas diz a verdade? Tem o dom da transparência, do realismo político, da infalibilidade quanto ao estado do Estado?


Segunda questão: mas o que é a verdade?


A minha compreensão, colhida, algures, num texto de LEVINAS, é que a verdade é a soma de todas as verdades. E nisso creio, sem ignorar que a mentira, por enfermidade psicológica ou conveniência política, alaga, porém, todo o espaço público desde há tempos imemoriais.


Parece-me ser de inteligência curta isso de gastar o tempo, hoje, à procura de culpados políticos para a situação actual, tanto quanto a permanente atribuição, recíproca, de responsabilidades quanto ao actual estado das coisas. É, afinal, a polémica do “quem lava mais branco” que, como não ignoramos, não leva a lado nenhum nem resolve o que quer que seja. Vende jornais e engana tontos, quando muito.


Fosse a magna questão portuguesa apenas a de se saber a verdade, a de identificar quem está a mentir ao povo! Não é, obviamente. E já me arrepia e revolta o arrastamento deste discurso espalhando-se, como azeite, na narrativa dos que pretendem ter o exclusivo da explicação do passado, do diagnóstico do presente e das chaves do futuro. Frases como “(…) era justo que os portugueses, por uma vez, soubessem com [sic] a verdade toda a real situação do país” (Expresso, 9 Abril 2011, Henrique Monteiro) são ridiculamente bacocas mesmo num país subdesenvolvido. E graves, escritas onde estão.


Defende-se, então, o culto da mentira?


Decerto que não.


O que, hoje, os povos civilizados querem é saber os factos, mais do que o juízo de valor que sobre eles faz recair o fanatismo generalizado. Os factos que lhes dizem respeito e o contexto em que os mesmos se inserem, bem como as consequências que deles poderão advir no futuro.


Na crueldade dos dias que passam poucos homens políticos – mesmo muito poucos – poderão atirar a primeira pedra. Contudo, andam pedras sem conta pelo ar vindas de todos os quadrantes e não se vê quem, com autoridade ética, possa pôr cobro a este destempero.


Não me reporto, no transe, à inopinada cambalhota política do Dr. Fernando Nobre, que apenas me parece revelar uma desmedida ânsia de protagonismo vinda de alguém que se pretendeu insinuar no espaço público como uma referência cívica categoricamente apartidária.


Afinal só os burros é que não mudam de ideias…


Também quero ignorar, aqui, a manipulada informação que os protagonistas trouxeram a público – Sócrates e Passos Coelho – a respeito do modo e local das suas conversas a respeito do chamado PEC 4.


Afinal são como mentiras de garotos sem consciência do que fazem…


O que me inquieta, porém, é que a noite cai e ninguém sabe o que será o dia de amanhã, se amanhã houver. O fanatismo partidário, ao serviço do qual está a mais incompetente classe política de que tenho memória, aponta para o pior dos cenários para Portugal. Se o dia-a-dia é o que se tem visto, e é a isso que se chama democracia, confesso que já estou na valeta do sistema e humilhado por ver o meu país vendido “democraticamente” a poderes sem rosto, a egoísmos esconsos, a caprichos e interesses inqualificáveis.


Será que ainda encontraremos forças para nos libertarmos – no nosso interior e face à adversidade externa – dos grilhões que já pesam demais sobre nós? A resposta, politicamente correcta, é a de que sim, havemos de conseguir. Mas a realidade parece desmentir tal resposta.


Vamos penar, e muito, os nossos pecados sem podermos, agora, bater mais a penitência no peito dos outros.


Amargo futuro, desditosa pátria!

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