quarta-feira, 9 de março de 2011

A ALIANÇA DE FAUSTO COM MEFISTÓFELES

À nossa volta o mundo mudou e uma nova carta de ideias surgiu, embora poucos disso se tenham dado conta.

Terá dito recentemente um político que “anda por aí” (nas suas próprias, lúcidas, palavras) que o PSD precisa de um líder que tenha um perfil de gestor, austero, frontal e rigoroso. E, logo a seguir, nomeava o seu preferido…

Dei por mim a pensar logo num computador a governar o país! Mas veio-me também ao espírito o mito, muito acalentado pelo povo alemão, em que, por um estranho pacto, o Dr. Fausto entregou a Mefistófeles a alma em troca de conhecimentos ilimitados e de muitos prazeres terrenos. E, depois, foi o que se sabe.

Há uma realidade insofismável no tempo presente e que se traduz em que o país está, aos poucos, a cair em si e a tomar consciência do que não pode gastar o que não produz, nem, sequer, amealhou. Que tem de cortar em gastos supérfluos e, porventura, noutros mais. Que tem de produzir mais e conviver com sacrifícios ainda incalculáveis e insuspeitos, até.

Mas Portugal tem de encontrar e definir o seu destino, mais do que andar às cegas, por aí, à procura de um homem providencial ou, passivamente, aceitando alguém que se lhe venda como tal.

Não sabemos valorizar as elites – que as temos – por um sentimento de inveja que desgraçadamente nos persegue, e, sem elas, porém, não sairemos do marasmo atual. Estamos, todavia, abertos ao marketing de pretensos salvadores que, além da sua “astúcia” não dominam as variáveis mais rudimentares da ciência ou da arte política.

Ora isto expressa um lamentável estado infantil da nossa democracia.

À nossa volta o mundo mudou e uma nova carta de ideias surgiu, embora poucos disso se tenham dado conta. O estruturalismo, o freudismo, o marxismo e os seus grandes pensadores (Roland Barthes, Lacan, Foucault, Althusser, entre outros) deixaram de pontificar na compreensão do homem e da vida e as suas ideias deram lugar a novas, outras, mais reflexões e a diferentes pontos de vista, ainda que seja inexato falar, a propósito, num antes e num depois nesse caos organizado que são as ideias humanas. Algumas palavras chave: globalização, neoliberalismo, bioética, sociedade em rede, China, crise… vieram ocupar o lugar de outras em torno das quais circulava o pensamento ou, pelo menos, vieram alterar os dados das equações reflexivas. Acumulamos ideias, teorias, paradigmas numa destruição criativa porventura jamais vista. Todavia estamos cada vez mais desamparados, assustados, sem norte, num redemoinho de informação que nos trará todos os prazeres e os mais amplos conhecimentos, tanto quanto mais angústias e dramas.

É inquestionável que estamos num momento de mudança de uma era para outra. O século XX já vai longe e novas formas de pensar estão aí.

Ora é aqui que, em geral, nós, portugueses não mudamos nada, não ousamos, sequer, escrutinar o horizonte mas, como sofredores, vivenciamos as ordens que nos vem de fora, sem independência nem autonomia.

Às vezes parece que só o bem estar material conta e que, fora dele, nada mais existe. Nada mais falso, porém.

Temos de pensar o nosso destino, no sentido do que queremos atingir e não do fatalismo habitual. Não pode haver razão sem emoção (António Damásio) e jamais um computador nos poderá guiar às melhores escolhas de vida, sem prejuízo, decerto, de que rigor, austeridade e frontalidade são valores de qualquer civilização que se preze. Só que o Homem não poderá, jamais ser recondutível a uma máquina, por mais perfeita que esta seja!

Ora há por aí muita gente desnorteada a ver a vida a preto e branco tal como se nela apenas valessem os seus próprios interesses e não o interesse coletivo, este impossível de aprisionar num qualquer software de um predestinado homem-máquina.

A política é, também, paixão e, sobretudo, amor ao próximo.

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