terça-feira, 16 de novembro de 2010

PORTUGAL 2010: SEJAMOS REALISTAS; EXIJAMOS O IMPOSSÍVEL!


O nosso tempo trocou os símbolos por gadgets e o utilitarismo de tudo se apoderou, incluindo o espírito. É o caminho mais curto, porém, que o Homem já encontrou para o seu aniquilamento total.

Valeria a pena voltarmos a nossa atenção por uns instantes para o que se pensou, escreveu e disse em maio de 1968, em França, nesse movimento de contestação sistémica, utópica, da sociedade e da forma de nela tradicionalmente estar.

Terá sido Marguerite Duras a autora da expressão de combate que encima este texto, segundo Raul Escari, recentemente falecido, deixou escrito.

Hoje, quem, em Portugal, estará, porém, em situação ética e política de lançar o mesmo grito?
E é tão urgente exigir, hoje, o impossível, outra vez e aqui!

O nosso tempo trocou os símbolos por gadgets e o utilitarismo de tudo se apoderou, incluindo o espírito. É o caminho mais curto, porém, que o Homem já encontrou para o seu aniquilamento total.

Ora, há que reagir, também em Portugal e depressa. Ou mudamos profundamente a forma de viver o fenómeno político em sentido lato (económico, financeiro e social) ou a alternativa é o abismo porque o mundo já não é o que foi antes e, crises, nunca mais nos deixarão neste modelo de sociedade neo-liberal em que estamos atulhados.

Restart é um palavrão do novo topo discursivo que me leva a outro: start up nation. Sim, temos de pôr tudo em causa e de começar de novo por muito que tal nos custe. Arriscando tudo, abraçando novos modelos de vida e de governação, apoiando novos actores sociais, noutros paradigmas de vida, reclamar outro Estado, mesmo. Não podemos mais manter os hábitos do passado, as formas de vida tradicionais, as incongruências da vida política, parados pela nostalgia do que já não é.

Rasgar o passado e olhar para o futuro implica, decerto, alguma loucura. Mas também disso precisamos. E é por isso que aqui vou deixar desafios e desejos para o primeiro ministro que me oiça, mas, sobretudo, para todos os inconformados com este viver indizível que levamos.
Tenho por indefectível, assim, que Portugal só mudará do lamaçal atual se a capital do país sair de Lisboa. Lisboa foi – e quer continuar a ser – a desditosa capital de um Império que já não existe. O que existe é um país desertificado, macrocéfalo, com fome já aqui e ali, sem rumo, sem capacidade para se governar. Lisboa será sempre, é claro, uma grande metrópole, mas a capital do país deveria cortar todas as metástases com esse espaço serôdio. E não se pense que estou a defender que seja o Porto a nova capital, pois entendo que deveria ser uma nova cidade (construída de novo e à feição) no centro do país, triangulando com Lisboa e Porto, designadamente, o que se deveria, também, traduzir um grande desígnio nacional, democrático, solidário e humanista. Recordo, a propósito, que Brasília é, para o caso, um bom exemplo como cidade construída de raiz e no centro do Brasil e que a Coreia do Sul tem um projecto de construção de uma nova capital em substituição da supercongestionada Seul. E outros exemplos existem (Washington, Camberra, Islamabad, etc.).

Igualmente não tenho dúvidas de que deveria acabar o financiamento público dos partidos políticos. Viveriam das contribuições (todas registadas, claro!) dos seus filiados e de actividades sócio-políticas (conferências, seminários, etc.) que realizassem. Seria o fim do regabofe atual que, mais dia, menos dia, vai levar ao fim do regime até porque, hoje, os partidos não são muito mais, em geral, do que agências de emprego e intermediários de negócios em que está em jogo, afinal, o dinheiro do Estado.

Os deputados da nação, eleitos em círculos uninominais, passariam, por seu turno, a representar o seu eleitorado e deveria ser valorizado o deputado independente. Além disso deixariam de ter uma retribuição fixa, mas, tão-só, em função do desempenho – senhas de presença, por exemplo). Talvez assim acabasse o carreirismo que vem matando a democracia.

Uma parte significativa dos operadores financeiros (banca, seguros e outras entidades desse universo) deveriam, também, estar na mão do Estado em, pelo menos, 50% do seu capital. Recorde-se que foram estes operadores, em mercado livre, que foram os detonadores da crise… e, agora, os primeiros “desgraçadinhos” a reclamar mais apoios.

Termino aqui. Hoje.

Afinal, porém, não disse, ainda, quase nada…

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