quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O SOCIALISMO CEGO, SURDO E MUDO


Hoje a maioria dos partidos estão nas mãos dos "jotas" que nada mais fizeram na
vida do que política partidária.

O mito é o nada que é tudo (Fernando Pessoa, Ulisses).

O socialismo hodierno, também, mas ao invés.

Em ensaio recentemente publicado (Os Valores da Esquerda Democrática – Vinte Teses Oferecidas ao Escrutínio Crítico, Almedina, 2010) o Doutor Augusto Santos Silva, actual ministro do governo de Portugal, propôs-nos “um exercício sobre os valores da esquerda democrática”. Lúcida reflexão, decerto, mas a meu ver, demasiadamente contaminada pela paixão que o trespassa e pelos conflitos que, aliás, não escamoteia, entre o ser e o dever ser da esquerda democrática.

Ser, hoje, socialista – ou social democrata, ou outra coisa qualquer – perdeu todo o alcance e significado. A doutrina política, as concepções políticas, ou as ideias políticas, na medida e enquanto se referem a esquemas teóricos para os problemas da organização da coisa pública com vista a alcançar a realização de um núcleo fundamental de valores (Rogério E. Soares) são uma miragem, na nossa democracia. E isto diz o povo, também, na sua sabedoria: “Eles são todos iguais!”
A linguagem politicamente correcta do pós 25 de Abril manda defender os partidos políticos como referencial da democracia. Mas a verdade pura e dura aponta noutro sentido e, quando procuramos entrever a outra face, a face oculta dos partidos, é deplorável o cenário que se nos apresenta. E nem era preciso vir, tarde e a más horas, o Presidente da República, em palavras ambíguas, criticar recentes debates parlamentares para chegarmos à mesma conclusão.

Os partidos que temos não prestam.

As leis que os formatam e à sua actividade (designadamente financeira) são desprezíveis à luz do momento actual. A corrupção não cessa de alastrar no seio dos poderes instituídos. Só os cegos é que não vêm.

A continuadamente adiada reforma da lei eleitoral, com a criação de círculos uninominais a par de um círculo nacional onde vigorasse a proporcionalidade, permitiria, porventura, um reforço da legitimidade pessoal dos deputados e uma menor dependência das direcções partidárias, o que se traduz, há muito, num dos maiores males da democracia parlamentar. Mas tal não convém aos donos dos partidos que se tornaram em pouco mais do que agências de empregos.

Hoje a maioria dos partidos estão nas mãos dos "jotas" que nada mais fizeram na vida do que política partidária e, assim, a qualidade dos políticos baixou drasticamente em Portugal nas últimas décadas, o que se torna evidente se compararmos a composição dos primeiros parlamentos, após 1974, com a actual realidade parlamentar. É certo que naquele momento estavam em jogo muitos valores essenciais, e não era, mesmo, seguro que a liberdade prevalecesse no país, o que, tudo, levou pessoas de qualidade a sentir o apelo da política e a empenharem-se nas questões da res publica.

Que saudades!

É preocupante a tendência monopolista actual dos partidos e que leva ao total descrédito da classe política. Vale isto por dizer que, também, o socialismo que se configura nas palavras dos políticos actuais é cego, surdo e mudo. Tal como outras tendências ou orientações partidárias está alheado completamente de quaisquer valores políticos, de qualquer ideologia ou doutrina. No ideário socialista há de tudo, como na farmácia e, prevalecendo-me da mesma imagem, o socialismo é como o “Melhoral”: não fez bem, nem faz mal. E os outros não se diferenciam desta categorização.

É por isso altura de dizer basta e de recuperar a soberania popular.

“Pior do que está não fica”.

Vivemos numa falsa democracia pontual, ocasional, descontínua na sua substância em que nada é verdade firme e tudo é feito de mudança imponderada, circunstancial e precária. Ninguém sabe o que vai ser o dia de amanhã e, o de hoje, foi mais um bloqueado, adiado, que não mais volta.

1 comentário:

Francisco Castelo Branco disse...

Isso e tudo verdade, e substituimos isto pelo que?

o modelo está esgotado mas nao ha outro que o substitua