quarta-feira, 21 de abril de 2010

ENCONTREI O ZÉ… DE TANGA

Os portugueses estão cada vez mais pobres – é esta a realidade incontornável e o futuro apresenta-se carregado de angústias para a generalidade dos cidadãos e das empresas.

O Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC, ou, como também se diz já, PREC, por referência aos loucos tempos do desvario posterior ao 25 de Abril de 1974), numa perspectiva politicamente pouco correcta e mais fracturante, fez-me vir à memória aquela história do ladrão que, depois de ter roubado toda a cidade, vai ao seu centro cívico e, com profunda convicção, decreta que, a partir de então, seria proibido voltar a roubar na cidade…

Ora tinha o país as suas contas mais ou menos controladas à custa, sobretudo, de imensos sacrifícios impostos à classe média e à custa, também, de cortes nas despesas saúde e da segurança social, designadamente, quando a piratia financeira, há muito à solta, num mundo descontrolado e ganancioso, se viu desmascarada e veio, então, à tona, a roubalheira de que os incautos cidadãos e os governos desleixados tinham sido vítimas. Foi o crash de 2008 que fez, faz e fará, ainda por longos anos, a miséria de muitos.

E foi assim que, também eu, encontrei o Zé… de tanga uma vez mais e o país à beira da bancarrota segundo alguns dos gurus que, a nível internacional, vão acompanhando as finanças portuguesas. A seguir à Grécia, dizem, será Portugal o próximo alvo da especulação financeira internacional com consequências dramáticas no horizonte. É claro que nós também nos pusemos a jeito gastando à tripa forra o que não tínhamos, vivendo de “amigos” e acrescentando dívida à dívida já acumulada. Ora nos mercados financeiros internacionais os “amigos” são sempre de ocasião e, no fim de contas, ignorar-nos-ão sempre quando a crise for séria e já não puderem rapar mais o fundo do tacho. E tudo isto é assim apesar de, em momentos de aperto no sector financeiro, nomeadamente nacional, o Estado ter sido chamado a abrir os cordões à bolsa avançando dinheiro dos seus contribuintes para pagar as asneiras, a ganância e a luxúria de que a banca e seus apêndices não prescindem.

Os portugueses estão cada vez mais pobres – é esta a realidade incontornável e o futuro apresenta-se carregado de angústias para a generalidade dos cidadãos e das empresas, não obstante existirem oásis de opulência decorrentes de ganhos imorais de alguns administradores de empresas e de lucros incompreensíveis de certas empresas financeiras.

O PEC é uma camisa de forças – que alguns ainda pretendem mais apertada no futuro – que a todos nos vai aprisionar. Talvez não houvesse alternativa formal para o caos em que vivem as finanças do Estado, mas, desacompanhado de, por um lado, um sério e inabalável apoio político-partidário alargado e, por outro, de uma crença nova e firme no destino de Portugal, não haverá futuro decente.

Este último aspecto é crucial. Vencer o medo e a angústia que crescem exponencialmente na nossa sociedade em crise e recortar um horizonte de esperança é o caminho. Já basta de negativismo e de pessimismo, de chafurdar no “Plano Inclinado” (lamentável programa televisivo, também, de Mário Crespo!), sendo necessário pensar num “País positivo”.

O medo é, como alguém já disse, a mais terrível das paixões porque anula a razão, paralisa a coração e o espírito.

Em cada momento histórico se deu um nome às humanas angústias de sempre. Hoje vivemos os nossos medos sociais, económicos e financeiros, mas também, psicológicos e, até, de perigos inexistentes e metafísicos. O que urge, então, é, apesar das dificuldades profundas que atravessamos e das angústias quotidianas, esperança de nos libertarmos dos medos.

Plantemos, pois, as sementes da esperança, com o PEC ou apesar dele, pois o futuro, se todos quisermos, poderá ser diferente e melhor.

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