quarta-feira, 7 de outubro de 2009

OS NEGÓCIOS DA COMUNICAÇÃO SOCIAL

Estamos perante um negócio com características especiais e com valores
fundamentais que não podem ser ignorados em nome do lucro.



É indisfarçável que tem havido estratégias empresariais e político-partidárias a fazer o seu caminho dentro dos órgãos de comunicação social. E se tal até se pode compreender - e aceitar, também, que não fere, só por si, a liberdade de imprensa - já a questão muda de figura quando, com tais estratégias, ficam de rastos os mais elementares princípios éticos que devem reger, sempre, a comunicação social.

Abre-se aqui, porém, uma outra questão, bem complexa, e que diz respeito à definição desses princípios, sobretudo num tempo de crise como aquele que, hoje, no plano financeiro, afecta o sector e que, porventura, também põe em causa o “modelo de negócio” em que a comunicação social se tem alicerçado.
Veja-se a comunicação social como um quarto poder ou como um contrapoder, o certo é que ela não pode levitar, em caso algum, sobre uma indeclinável ética de responsabilidade a qual há-de ir muito para além das leis positivadas que regem os media e os direitos de personalidade, e outros, que lhe recortam as ambições ou os simples interesses. A televisão, a rádio e os jornais têm ainda – ou cada vez mais, (depende da perspectiva) – um poder extraordinário e omnipresente sobre o comum dos cidadãos afectando o seu pensamento, os argumentos em que apoiam as suas opiniões, as suas mais simples escolhas e a generalidade dos comportamentos sociais.
Temos por seguro que sem uma imprensa credível e independente não pode haver uma opinião pública democrática e uma sociedade civil esclarecida que lhe dê suporte. Se na política palaciana os valores morais e éticos não contam, como esclareceu Maquiavel, tal não pode valer nos media.
O principal objectivo dos órgãos de comunicação social não pode ser, pois, o lucro a qualquer preço, mas, sim, a garantia de que a informação prestada aos cidadãos é verdadeira, ainda que sujeita a diversos critérios interpretativos.

Estamos, na verdade, perante um negócio com características especiais e com valores fundamentais que não podem ser ignorados em nome do lucro.
Hoje, aposta-se, por vezes, tudo em busca de mais receitas, mas esse é um mau caminho para a comunicação social.

Joga-se tudo na influência para destruir uma pessoa ou uma ideia, mas por aí só vem ódio e vingança.

A comunicação social precisa de se renovar na ética democrática e nisto vai um grito de alerta para que a influência dos grupos económicos e financeiros a não controlem de vez.

Episódios recentes evidenciam quanto o controlo da comunicação social pode reduzir à insignificância qualquer cidadão, qualquer grupo ou instituição. Os casos do telejornal de Moura Guedes na TVI e o da envolvente às pretensas escutas ilícitas na Presidência da República, deveriam desencadear na sociedade um profundo e amplo debate sobre a comunicação social que temos, sobre quem a controla e com que fins.

A relação dos media com a política e a influência dos interesses económicos e financeiros sobre os conteúdos dos órgãos de comunicação social são questões da maior relevância para o aprofundamento da democracia. Mas são, também, temas escaldantes de que todos, incluindo os jornalistas, procuram fugir lavando as mãos como Pilatos.

Até quando?

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