quarta-feira, 14 de outubro de 2009

POUPAR, INOVAR E INVESTIR


Muito vai ter que mudar – e profundamente – no próximo futuro com dramáticas consequências também sociais.

Cumpriram-se os actos da liturgia política eleitoral que um regime democrático tem por mínimos, mas, debaixo do tapete, para onde foram varridos por conveniências difusas, continuam os grandes problemas estruturais do país: um endividamento externo colossal; o desequilíbrio insano das contas públicas; o assustador desemprego que grassa entre a população; a fraquíssima produtividade da nossa economia; a recorrente falta de competitividade das nossas empresas no mundo global, e, ainda, outros males estruturais conexos, nomeadamente no sector da Justiça e da Educação.

Já ninguém dúvida de que a crise que atravessamos, também global e deveras profunda, foi deixando marcas de monta, irreversíveis, no tecido económico, social e laboral do país.

Poucos terão, porém, uma ideia estratégica clara sobre como aproveitar as consequências da crise para se prosseguir buscando novas oportunidades que, nestes contextos, sempre surgem. Mas urge, porém, procurar tais novas oportunidades, no que tudo vai um grande desafio à sociedade empresarial, à sociedade civil e, também, à comunidade científica do país.

Poupar, inovar e investir são palavras de ordem e imperativos categóricos depois de levantada a feira das vaidades eleitorais.

Está dito e redito por quem sabe que temos de apostar na economia do conhecimento num mundo global e seguindo uma estratégia sem fronteiras. É este, e não outro, o destino de um pequeno e periférico (semi-periférico, segundo outros) país, tolhido pela sua dívida externa, massacrando pelo desemprego e com uma dívida pública insustentável. E, como se tal não bastasse, corroído, também, pela corrupção, desleixado no empreendedorismo e, ainda, amordaçado pela burocracia.

Há, apesar de tudo, que afivelar no palco da tragédia uma forte vontade de vencer, pois de outro modo soçobraremos. E será tal vontade que há-de fazer a diferença entre os vencedores e os vencidos. Não haverá alternativa, porém, nos próximos – e longos – anos à redução, quantitativa e qualitativa, do nível de vida da generalidade dos cidadãos. Em vez de comer bife todos os dias, temos de nos preparar para comer dia-sim, dia-não, ou, até, menos amiúde…

A crise ainda apenas mostrou aos portugueses uma das suas facetas e, porventura a menos dolorosa, tirando o desemprego, muito atenuado, de resto, nas suas consequências pela panóplia generosa de prestações sociais que lhe servem de amortecedor.

Somos um país pobre, mas, pior que isso, um país que não quer, ou não sabe, trabalhar para se tornar rico. Um país de grandes injustiças político-geográficas e pouco solidário.

Não vai nesta alegação, porém, o pessimismo ressabiado de Medina Carreira, expresso no seu recente livro “Portugal, que futuro”. Se fosse, diria que, então, chegou o momento de apagar as luzes e fechar a porta.

Creio que Portugal tem viabilidade e que o Estado português está longe de ser um Estado falhado ao nível económico. Mas muito vai ter que mudar – e profundamente – no próximo futuro com dramáticas consequências também sociais.

E é neste contexto que, porventura mais do que o partido do governo, serão os da oposição que marcarão o nosso destino, por mais bizarra que pareça a ideia.

O papel do Estado será, então, fundamental, sendo certo que ninguém ignora, porém, as divergências que, nessa área, campeiam entre as diversas forças políticas. Ora é neste campo que se travará a batalha decisiva – o problema a afrontar não será, de facto, o do liberalismo político, mas o do liberalismo económico numa economia muito frágil para sobreviver num modelo liberal.

Precisamos de uma ideologia que venha conferir sentido aos sacrifícios que teremos de atravessar.

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