A Educação também se
vende. E é melhor ir por aí do que fechar escolas e despedir professores.
Os mais
qualificados, sem emprego, partem após os estudos.
O país fica fragilizado.
Os que ficaram,
não prosseguem a sua formação por falta de meios.
O país fica
hipotecado.
Vai-se, assim, o
presente e desmorona-se a esperança num futuro melhor. E neste jogo de soma
nula outros ganham o que nós perdemos.
Interrogo-me,
neste contexto, sobre a estratégia do país quanto à Educação – na eventualidade
de haver alguma – e como ela estará a ser desenvolvida. A minha convicção é que
tudo na Política, hoje, se resume a questões de tabuada. A austeridade, que tem
razão de ser, sublinho, quando, porém, é cega e fruto de certas ideologias leva
a disparates inqualificáveis. O que se agrava quando a mediocridade, o egoísmo
e os interesses pessoais se agarram à mesa do poder.
Não há
professores nem escola a mais. Há, sim, estudantes a menos. É que nada se
dinamiza para combater a queda demográfica que nos vai minando, ou a
desertificação do interior do país que nos está a tolher o futuro. Combater
estes flagelos apocalípticos exigiria politicas ativas que nem será preciso
inventar. Bastaria sensibilidade democrática e visão de futuro, que não há. Um
dia, que não virá longe, se tudo continuar na mão das corporações que nos
(des)governam, então, por falta de crianças e de território viável, só restará
apagar a luz e fechar a porta ao Estado falhado que seremos (ou, já somos?).
Um outro aspeto
que continua a ser descuidado tem a ver com o desprezo pelo valor da língua
portuguesa no mundo global. Hoje mesmo presidi a um almoço de empresários
franceses e portugueses. O discurso oficial, a cargo de um representante do
governo português (?), foi feito em inglês (globish,
mais precisamente). Sinal dos tempos, contestar-me-ão, e destino inelutável.
Não aceito. Como rejeito liminarmente que, em cursos de formação avançada,
designadamente universitários, as aulas sejam dadas em inglês. É
provincianismos a mais e prospetiva a menos. Quem frequenta tais cursos – também,
os estudantes estrangeiros – teriam, a médio prazo, muito a ganhar, tanto
quanto o nosso país, no uso corrente da nossa língua. Mesmo quando as aulas
fossem lecionadas em francês, inglês, alemão ou italiano, o que seria normal, a
língua do curso deveria ser a portuguesa. Note-se que para frequentar tais
cursos há que ter habilitações suficientes e, uma das exigências para escolher
os candidatos deveria ser compreender, pelo menos, todas essas línguas, além da
portuguesa. Enquanto imperar a tabuada (o negociozito) e o facilitismo só
trabalharemos, porém, para assar as castanhas que outros irão comer.
Uma nota final.
Em vários países, como é o caso do Reino Unido, a formação, exigente e de
grande qualidade, não é alheia aos ritos e ao simbolismo que a cultura enraizou
em muitas universidades. E assim é que o fim de um curso é, também, num momento
de festa, alegria e, até, folclore (quem tem medo da palavra?). Aí impera uma
outra perspetiva legítima do ensino que é a economia. Alguém tem ideia de
quanto beneficiam economicamente as escolas onde está viva a cerimónia de
imposição de insígnias no fim de um curso obtido num país estrangeiro?
A Educação
também se vende. E é melhor ir por aí do que fechar escolas e despedir
professores.
Deixemos de ser
pedintes e de viver de amigos.
Sejamos ousados,
inovadores, diferentes.
Claro que é mais
fácil viver à custa do Estado (vejam, olhem já as movimentações dos ratos, após
as alterações do poder autárquico, à cata de ração!) mas, por aí, só mudam as
moscas…
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