quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

REFUNDAR O ESTADO, OU RENOVAR PORTUGAL?


Sempre houve e haverá alternativas quando os homens sonham.
É preciso é não lhes matar o direito de sonhar.

 Neste início de um novo ano, aliás em sequência da tentativa de avaliação feita ao de 2012, interrogo-me, crescentemente impaciente, sobre o presente e o futuro deste país onde vivemos ou apenas já sobrevivemos. E não é só a austeridade que justifica tanta apreensão é, sobretudo, o catastrofismo obscurantista que alguns espalham pela opinião pública num tempo de irracionalidades sobrepostas e interpostas e de incompetência generalizada.

Não se pode ignorar que hoje nos aprisionam a vida numa profunda transformação do mundo onde quase tudo à nossa volta está em processo de desconstrução e desintegração com foros de gravidade e amplitude dramáticos para quase todos. A crise que varre o Ocidente é particularmente sentida neste canto da Europa – é assim que certos poderes não eleitos nos consideram! – e significa crescentes desigualdades sociais, pobreza sem fim e exclusão social acelerada. Não há direitos sociais que resistam já à fúria destruidora do papel do Estado social que nos querem, agora, impor os da grande finança.

O nosso fado chama-se hoje crise num tempo em que a inteligência da vivência humana cada vez se aprofunda mais. A revolta, o medo e a deceção estão presentes no ar que respiramos e sopram já ventos, vindos da profunda regressão da economia, que prenunciam o fim das liberdades políticas. Como referem Nicolas Berger e Nathan Gaudes habituamo-nos a viver em “democracias de consumo” onde não há lugar à preparação de qualquer futuro.

Assim não vamos, porém, a lado nenhum.

A austeridade pela austeridade, de que tanto gostam alguns austeristaristas de serviço, é uma  armadilha dos homens contra o Homem. Mas que precisamos de uma extensa e profunda revisão de comportamentos e, sobretudo crenças (p. ex.: tudo é possível, não há limites para o consumo, o Estado tem de dar tudo, etc.) é uma realidade. Chamemos-lhe metanóia e sigamos essa purificação interior dos maus hábitos de um passado ilusório.
Só que a austeridade sem esperança é gaita que não assobia.

Porque é que temos de empobrecer como expressa ou implicitamente nos impõem os do Terreiro do Paço?

Não há alternativa?

Sempre houve e haverá alternativas quando os homens sonham. É preciso é não lhes matar o direito de sonhar.

Os portugueses não estão condenados à miséria e podem sair do atoleiro em que o país se encontra se for esse o seu desejo. É certo que “um fraco rei, faz fraca a forte gente” mas nós somos maiores que esses austeritários que nos governam sem qualquer ideia que vá além da tabuada.

Temos que trabalhar , produzir e viver.

Trabalhar com inteligência para sermos competitivos num mundo global que aí está. Produzir para partilhar, em solidariedade com os outros portugueses e vender fora, competitivamente, tudo o mais. Viver para além do trabalho porque o homem não foi feito para o trabalho mas o trabalho para o homem. Para o realizar e emancipar.

Quando tantos portugueses abandonam o país em busca de segurança, estabilidade e conforto, será que os que cá vamos ficando não seremos capazes de mudar a tendência confrangedora deste tempo ingrato?

Se quisermos, somos. A condição essencial para isso, contudo, parece ser hoje, mais que nunca, mudar de “rei”, mudar o Terreiro do Paço para o país real, desligar da comunicação social oportunista que temos, e meter mãos à obra para refundar Portugal.

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