quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

NEM TUDO O QUE PARECE É…

O otimismo panglóssico que se pretende alimentar é, não raras vezes, uma falsa esperança que o destino se encarregará de punir.

A autoflagelação é algo a que muitos se dedicam em momentos de crise como aqueles que iniludivelmente vivemos no presente, tanto quanto o optimismo é o lenitivo de outros. Porventura nem uns, nem outros, terão toda a razão num mundo que vai muito mal, mas que não consente que se perca o realismo da esperança.

Implica esta postura que se dê atenção redobrada a antinomias, umas reais outras aparentes, que circulam no espaço público apoiadas em opiniões de ilustres politólogos, comentadores ou cronistas que nem se auto-regulam nem são, muitas vezes, confrontados com as suas desqualificadas narrativas por quem deve e pode esclarecer os mais variados fenómenos da vida pública. Andamos, por isso, a comer gato por lebre quando não olhamos todo o horizonte das notícias e comentários que os vários interesses nos procuram vender como verdades absolutas mas que são, afinal, apenas parte da verdade que é, afinal, a soma de todas as verdades (Levinas).

Sublinho, aqui, por um lado, o discurso oficial que tem sido adotado pelo Governo na pretensa defesa do Estado social – ou da sua patologia, o Estado providência – e a realidade quotidianamente vivida a qual evidencia um certo adeus ao Estado social (João Carlos Loureiro, Adeus ao Estado Social?). Se é inegável que se defende, à esquerda, o Estado social: o Serviço Nacional de Saúde, a Escola Pública, a Segurança Social pública, não é menos verdade que, alegadas razões de consolidação do orçamento e de redução da dívida pública, têm determinado cortes profundos no perímetro dos direitos sociais alegadamente conquistados e pretensamente território intangível.

Invoco, por outro lado, a proclamada exigência do maior partido da oposição relativamente ao cumprimento pelo Governo do Orçamento de Estado e acordos com este confluentes entretanto celebrados como condição sine qua non para a subsistência desse mesmo Governo. Tudo parece bater certo, mas a verdade é que, atrás da exigência, no essencial correta, de cumprimento dessas normas financeiras, aparece, mais ou menos disfarçada, a vontade de que o Governo falhe, depressa e inapelavelmente, a execução do orçamento, com o que se abriria a porta a uma potencial alternativa de governação.

Tudo isto soa a falso.

O pessimismo da direita, muito conveniente, cai bem num largo setor da sociedade onde campeia, há muito, uma potente revolta face à perda de direitos, de regalias e de privilégios. Mas, só por si, não leva a lado nenhum.

O otimismo da esquerda, enraizado em “amanhãs que cantam” e em muito irrealismo, vai decepando alegremente – proclamando embora o contrário – o Estado social que a Constituição consagra mas que, em larga medida, tem pés de barro e é, por isso, insustentável. O otimismo panglóssico que se pretende alimentar é, não raras vezes, uma falsa esperança que o destino se encarregará de punir. Por si só também não leva a lado nenhum.
A vida não está fácil.

Não é uma mera moda do topos discursivo dizer-se que nos encontramos numa sociedade de risco, de medo.

Como vencer o medo e as suas causas e ultrapassar os riscos e as suas consequências neste imbróglio de posições, situações e interesses? São, estas, questões de grande atualidade e que sobrelevam as meras opiniões de café a que vamos estando condenados.

Todos querem “sol na eira e chuva no nabal”, mas é sabida a improbabilidade de o conseguir. É certo, porém, que terá de se encontrar uma saída para o caos atual. As palavras tem de ganhar sentido, as opiniões fundamentação, as escolhas assentar em estudo sério e aprofundado, o futuro tem de ter um sentido.

Nada é certo nem definitivo.

Nada está garantido.

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