terça-feira, 7 de dezembro de 2010

O que pensaria Sá Carneiro ao ver Ramalho Eanes a presidir À Comissão de Honra da candidatura presidencial de Cavaco Silva?


Rasgar novos horizontes é urgente repelindo o acantonamento geral da sociedade política na apatia do fado lusitano e na crença sebastianistica alicerçada em nada
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Trinta anos passados sobre a tragédia de Camarate, foram muitos os que se dedicaram a recordá-la e a fazer, até, exercícios de “história virtual” - , fição, esta, porém, mais do que trabalho - academicamente sustentado, ainda que com devotos seguidores nestes tempos de loucura vulgar em que vivemos.

Por convicção – e não mera crença – não cultivo o mito, mas acredito no Homem. E, para mim, Francisco Sá Carneiro foi um ser singular, um grande estadista e maior português e, em toda a dimensão da palavra, um revolucionário.

Partilharam a sua vida pública alguns outros homens excecionais, ora apoiando-o ora reprovando-o. Com o seu desaparecimento banalizou-se a democracia, faleceu a coragem, esmoreceu a fé e a esperança num país melhor, abrindo-se a porta a toda a mediocridade que por aí anda.

Hoje, mergulhados num profunda crise – ou, melhor em várias crises, pois que não estamos, apenas, perante uma crise de dimensão financeira e económica – um balofo saudosismo poderá levar-nos a endeusar miopemente o passado. Mas é inegável que nesse passado encontramos homens, ideias e valores que submergiram, entretanto, num individualismo que pesa muito na atualidade, tal como explica historicamente a degradação a que chegamos. Uma pergunta apenas: haverá hoje Homens com força ética e coragem inteletual e física para lutar pela libertação do país, tal como em abril de 74 e novembro de 75?

A meu ver Sá Carneiro, Mários Soares, Freitas do Amaral e poucos mais, estão entre esses eleitos mas não deixaram descendentes para a “apagada e vil tristeza” dos dias de hoje em que nem há ética na política, nem política ética. De lembrar, ainda, a figura impar do Prof. Ernâni Lopes, quem vem de nos deixar, mas que há muito se afastara, porém, da politiquice caseira para defender causas maiores.

Ora é de causas que precisa o nosso país.

Nas questões de mercearia orçamental e financeira, a política já há muito não conta. Sermos, pois, governados, nesse plano, de dentro, ou de fora (pelo FMI) é igual sendo possível, mesmo, que, deixando o resgate financeira do país nas mãos de terceiros, se pudessem evitar o caciquismo local e as exceções às regras gerais impostas por poderes tenebrosos que vegetam aleatoriamente nos corredores da política interna, ou são meras filiais de idênticos poderes sobretudo ligados à especulação financeira internacional.

Os portugueses já perceberam o quanto irão sofrer com a crise e, também, como será difícil, face a uma provável recessão, sair da crise. E não se poderá ignorar, ainda, que a austeridade, quanto mais ampla for, menos eficaz será.

Para voltarmos a uma vida decente – hoje é disso que se trata – temos, é certo, de crescer em termos económicos, mas, sobretudo há que recuperar valores de cidadania e de solidariedade e vencer o inviduocentrismo que nos tolhe. Precisamos, pois, de causas maiores do que nós para lutar e vencer.

É aqui que volta o exemplo de Sá Carneiro e, por contraposição, o de quantos, sem causas, se organizaram em videirinhos interesses e lutas sem sentido alavancadas pela mera ganância do poder ou do dinheiro. São estes, em geral, quem detém os poderes neste tempo dramático e, por mais ambições que tenham, não têm causas que valham a pena.

Rasgar novos horizontes é urgente repelindo o acantonamento geral da sociedade política na apatia do fado lusitano e na crença sebastianistica alicerçada em nada. Tomar como regra de vida e objectivo central o bem-ser (wellbeing) e não, apenas, o bem estar (wellfare) é tarefa urgente mas crucial, tanto quanto ter princípios que se não mercadejam ao sabor dos acontecimentos e dos meros interesses e conveniências pessoais.

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