quarta-feira, 13 de outubro de 2010

HÁ MAIS PORTUGAL PARA ALÉM DA CRISE!


Basta de “glorificar” a crise e de desprezar as nossas capacidades
de viver uma vida decente.


Os protagonistas de um novo País não sairão jamais de um certo “Portugal sentado” que se compraz diante do luxo e do lixo que certa comunicação social lhe mete pela boca abaixo em cada dia e a toda a hora.

É necessário ter bem presente que esta, muitas vezes, despudoradamente e à má-fila, também faz escolhas políticas apesar da sua pretensa independência, promove as carreiras dos que escolhe segundo os seus interesse e a dos que a sustentam, enquanto ignora o que não lhe traz lucro. A coberto de uma falsa ideia de liberdade de expressão – liberdade que, inegavelmente, é melhor ter que não ter – todos os dias a nossa consciência é violada sobretudo se não nos impusermos critérios de selecção muito rigorosos. Apresentando-se, assim, como independente, em regra disponibiliza apenas o que lhe convém materialmente, isto é, as notícias que rendem, por um lado e, por outro, aquelas que servem os interesses dos patrões que os mantêm e os dos seus amigos políticos e financeiros.

Ora esta malfadada situação é, também, uma fonte de crise, protagonista da crise, beneficiária da crise e, também, crise.

Tem, porém, de haver – e há – mais Portugal para além da crise real e daquela que nos é “vendida” todos os dias por uma comunicação social de natureza ainda feudal, onde as redacções já pouco ou nada contam enquanto muitos jornalistas são, em regra, meros servos da gleba, paus mandados de ideologias disfarçadas de liberdade de imprensa.

Parece, aqui, que nada de bom e a salientar acontece neste país de carpideiras, mas acontece! – o que, porém, não vem às luzes da ribalta comunicacional a não ser como excepção. E daqui é que chego à conclusão de que a comunicação social é, também, responsável pela crise que atravessamos na medida em que dela vive, é o seu negócio.

Convém, de passagem, referir que a comunicação social a que se alude não se confunde com os jornalistas, nem na sua natureza nem na dos interesses que defendem. Mas é claro é que tudo poderia ser diferente com melhores jornalistas, verdadeiros jornalistas e não meros serventuários dos poderes diversos que se escondem atrás da comunicação social. Sem bons jornalistas não há, com efeito, uma opinião pública informada e forte que lucidamente possa afirmar-se perante os políticos em geral e os que nos governam em particular. Mas onde param os bons jornalistas, credíveis e independentes? Quando os poderes financeiros se encontram por trás do que lemos, ouvimos e vemos nos média o que está em causa não é apenas a liberdade de imprensa – é negócio, são interesses e todo o cortejo de prepotência que neles se penduram.
Independentemente do que nos chega ou vamos beber ao que se diz, escreve e mostra na comunicação social, estamos numa sociedade que atravessa sérias dificuldades e não poderemos continuar a viver na singeleza perversa do efémero, do transitório, do instante que passa. Não terá qualquer futuro, de facto, uma sociedade que rejeita tudo o que lhe exige um mínimo de esforço e de sacrifício; uma sociedade sem valores e sem solidariedade; uma sociedade que não tem um destino assumido colectivamente para além do tempo da crise.
Creio que os portugueses têm de assumir duas ideias simples mas essenciais: todos temos que passar por sacrifícios (sem deixarmos de ser uma nação solidária) e, também, urge recuperar o sentimento são de orgulho nacional.
Basta de “glorificar” a crise e de desprezar as nossas capacidades de viver uma vida decente. Os portugueses – e, porventura outros nesta Europa à deriva – viram ser-lhes sequestrado o direito à inteligência em prol de um pensamento único mais que discutível. Há que dar um valente safanão na “coisa pública” e nas mentalidades ou não haverá amanhã.

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