quarta-feira, 20 de maio de 2009

LIBERALISMO DE ESQUERDA OU SOCIALISMO LIBERAL

O futuro do socialismo depende da sua capacidade de assumir ideias fortes para perguntas fortes e, aqui, o liberalismo terá uma palavra a dizer no diálogo que implica entre liberdade e coesão social e entre eficiência económica e justiça.

O socialismo que nos vem governando, dito liberal, é algo híbrido que se fica, indefinido, entre as palavras dos que acreditam e pugnam pela forte intervenção do Estado na economia e, outros, que privilegiam a eficácia do mercado. Obviamente os primeiros sublinham com mais vigor a necessidade da regulação e da protecção social pública.
E, nos tempos que correm, é a volta disto que se tece o debate político à esquerda sendo certo que a direita não desdenha, também, alguns dos temas em causa. Fora desse âmbito, apenas ficam algumas, ditas, causas fracturantes de duvidosa oportunidade e, porventura, gravosas consequências civilizacionais.
O problema é de carácter ideológico e merece alguma atenção. É que não podemos, desde logo, ignorar, por evidente, que as ideologias do passado recente estão, cada vez mais, em crise esvaziando-se inelutavelmente de sentido e alcance. Se a compreensão do mundo que, outrora, nos trouxeram foi útil, hoje o que é urgente são ideologias que possam mudar o mundo, cumprindo os anseios democráticos que, cada vez mais, são uma exigência de todos os cidadãos. A pulsão democrática hodierna é uma pulsão de mais liberdade e de mais autonomia acompanhada, certamente, por um indeclinável acréscimo da responsabilidade de cada cidadão, no que tudo há-de ir a nossa percepção ideológica do mundo em que vivemos.
O futuro do socialismo depende da sua capacidade de assumir ideias fortes para perguntas fortes e, aqui, o liberalismo terá uma palavra a dizer no diálogo que implica entre liberdade e coesão social e entre eficiência económica e justiça. Também no ideário socialista.
Liberalismo de esquerda ou socialismo liberal podem trazer respostas, numa sociedade aberta, à crise actual na recusa, que elejam como prioritária, do totalitarismo do mercado em benefício do liberalismo político, da autonomia pessoal, da coesão social.
O socialismo do futuro será liberal ou não existirá (Guilherme de Oliveira Martins) e, nesta medida, os liberais puros e duros como Hayeck estão em pura perda. O tempo actual encarrega-se de os desmentir.
Olhando agora em redor, na nossa casa lusitana, vemos que o debate, incipiente e fragilíssimo, todavia, entre socialistas e social democratas parece, também, girar em torno de mais ou menos Estado sem pôr em causa, porém, aquele espírito do liberalismo moderno. Ponto é que surjam medidas concretas, projectos precisos e desafios aglutinadores que esclareçam como é que, cada partido, pretende levar a cabo a sua compreensão do socialismo liberal ou do liberalismo de esquerda.
No contexto da crise global, com particularismos específicos no nosso país, as escolhas e alternativas não são fáceis. Mas são decisivas para a escolha dos eleitores – ou para a abstenção se afirmar como opção face à incapacidade que os políticos, no transe, venham a demonstrar nos seus programas eleitorais.
Há que deixar de lado, como questão principal, o problema da forma ou dos procedimentos para governar e assumir, decisivamente, o que distingue, na perspectiva liberal (socialista e social democrata) cada projecto político. Tudo no sentido de mudar o paradigma conservador em que temos vivido e, a partir daí, encontrar os modelos de convivência social e política do futuro.
Já não basta recusar a economia dirigista e o primado totalitário do mercado atenuados, porventura, por alguma regulação errática se queremos responder – como é urgente – à sociedade complexa, global e em transição em que nos encontramos submersos.

E-mail: antoniovilar@antoniovilar.pt

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