O Porto e a sua região
no contexto da fachada atlântico da Europa constitui-se num território de novas
conquistas, de um outro futuro, de maior dignidade cívica.
Poucos se surpreenderão
ao verificar o título desta crónica. Sonho antigo, defendi-o com quantas forças
pude e ao lado dos grandes homens que, então, partilhavam, no seio do Forum
Portucalense, tais ideais. Mas a vida dá muitas voltas e, por isso, essa
ambição foi metida na gaveta.
Há dias, porém,
fui inquietado por um brasileiro, Cássio Rolim, professor universitário, grande
entusiasta da “Construção do Grande Norte”
nas suas próprias palavras. Fiquei surpreendido, tanto mais que nos juntamos na
presença de um homem do Norte, o Sr. Prof. José Silva Costa. Uns dias depois
desse encontro, o Prof. Rolim escreveu-me umas linhas, poucas mas profundas,
onde fundamentava uma proposta para o seu projecto de conferências: “A região Norte de Portugal vive uma situação
paradoxal. Nela está instalado grande parte do parque produtivo, uma parcela
importante da população universitária, e o segundo aglomerado urbano do país.
Além disso, mantém importantes relações económicas com as regiões espanholas
vizinhas o que possibilita a consolidação de um amplo espaço económico
transnacional. No entanto, apesar de todas essas vantagens, vem perdendo
participação no PIB português ao mesmo tempo em que tem elevados índices de
pobreza.”.
Com tantos
autoproclamados “notáveis” no Norte – pensei eu – como é que tem de vir alguém
do outro lado do Atlântico para nos chamar à pedra?! Eu senti-me interpelado,
desafiado, envergonhado e aqui estou de novo, pois, para convocar os que ainda
não desistiram de viver a sua (e na sua) terra para esse combate do futuro:
fazer do Porto e da sua região a capital da fachada atlântica da Europa. E devo
dizer que o facto de o país estar a atravessar uma gravíssima crise me dá ainda
mais alento.
A regionalização
do país – que, no transe, seria um instrumento adequado - não tem sido mais do que
uma brincadeira na mão dos políticos de vários quadrantes. Ora a defendem, ora
a repudiam conforme os seus interesses de ocasião que nunca são, porém, os
interesses de Portugal nem os da democracia. A criação das regiões está, desde
sempre, prevista na Constituição da República mas, apesar de tantos defensores
desta (e dos direitos adquiridos) tal previsão não preocupa os partidos. E até
se compreende, pois, nos jogos palacianos das suas ditaduras internas, aqueles
tem mais com que se preocupar, ou não fossem hoje essas entidades funestas os líderes
da corrupção em todas as dimensões da palavra.
A
regionalização, como caminho para se alcançar uma nova sociedade de onde a
crise possa ser desalojada, é, porém, um imperativo que só não é compreendido na
capital – que ainda se tem por capital de um império colonial e onde, agora, as
colónias são as regiões deste maltratado país.
Regiões e
cidades estão, porém, no mapa de um outro possível futuro. Já lá vai o tempo
dos Estados-nação e não é possível ignorar mais as cidades e as regiões mundo
deste tempo global.
O Porto e a sua
região, no contexto da fachada atlântico da Europa, constitui-se num território
de novas conquistas, de um outro futuro, de maior dignidade cívica. É notório
que, para tal, tem qualidades humanas e materiais, muitas delas, porém,
desperdiçadas até agora por invejas e egoísmos de autarcas autistas. O tempo
exige austeridade mas não proíbe a reflexão e, por aqui, é fácil de concluir
que acabou o tempo do cimento e, agora, é o tempo do conhecimento.
Criar valor é o
que o Porto e a sua região pode e deve fazer. E é nas PME, que marcam o seu
tecido económico, que residem os melhores espaços para desenvolver a economia
do futuro que em breve não será mais a de produção em massa. A escala das
regiões será a potenciadora maior das inovações tecnológicas que se adivinham,
em novos produtos e outros serviços.
Quer queiram,
quer não, o Porto e a sua região, na fachada atlântica da Europa, estão no
caminho do futuro. Vamos demonstrá-lo.
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