Cresce quotidianamente o investimento privado no comércio e
na indústria do turismo dedicados aos novos utilizadores da cidade. É aqui que surge a possível mais-valia das ilhas do Porto.
Chegam notícias
de que, no Porto, se começa a olhar com alguma atenção para um património, tão dramático,
física e socialmente, quanto singular, que são as chamadas “ilhas”. O tempo
chega sempre, mas, às vezes, não chega à tempo… Oxalá haja muita esperança.
O Porto passa,
nesta segunda década de 2000, por uma frenética reabilitação em múltiplos aspetos
do centro da cidade que o turismo “low
cost” descobriu e alimenta. Seja uma moda, ou algo para ficar, o certo é
que cresce quotidianamente o investimento privado no comércio e na indústria do
turismo dedicados aos novos utilizadores da cidade (city users).
É aqui que surge
a possível mais-valia das ilhas do Porto numa estratégia de apoio, também, ao
turismo nas suas múltiplas dimensões.
Sabemos que a
ocupação residencial na forma de ilhas
é um modo de habitação dos operários ligados à Revolução Industrial – um
processo de industrialização que se iniciou no Reino Unido em meados do século
XVIII e que transformou o modo de viver, as relações económicas, o trabalho, em
torno do capitalismo industrial. Portugal acompanhou esse movimento, como
tantos outros, porém, de longe, escassa e tardiamente, sendo que foi no Porto e
na sua região que esse processo mais se refletiu (ver José Manuel Pereira de
Oliveira, O espaço urbano do Porto:
condições naturais e desenvolvimento e François Guichard, Porto, La ville dans sa région).
As guerras que
destroçaram a Europa, sobretudo as duas guerras mundiais, destruíram pela
Europa fora os traços desse tempo em que as cidades industriais sugavam
trabalhadores dos campos e os agrilhoavam nas nascentes cidades industriais à
volta da fábrica taylorista-fordista. A história evidencia este fenómeno e a do
Porto e subúrbios deixa algumas referências, também a este processo.
Acontece que,
entre nós, quer por fatores históricos (as grandes revoluções e as guerras mal
chegaram ou passaram ao lado do país) quer pela inércia política, quer pelo
persistente atraso económico, as ilhas do Porto ainda aí estão na nossa
“modesta cidadezinha” (Virgílio Borges Pereira e João Queirós, Na “modesta cidadezinha”. Génese e
estruturação de um bairro de “casas económicas” do Porto [Amial, 1938-2010]).
Recorde-se, de resto, com estes autores, que “dificilmente deixará de se
concordar que a história das “políticas de habitação” no nosso país não começa
realmente senão em 1933, ano de criação do Programa das Casas Económicas” (p. 11)
Ora bem. O
desafio que nos cumpre enfrentar é o de ir à procura das ilhas existentes na
cidade e pô-las no mapa de uma nova economia, virada para o mundo global em que
vivemos e, sobretudo, tendo em conta as “classes criativas” que já estão
presentes no presente e buscam o seu espaço.
A criatividade
humana é, porventura, o último recurso que temos à nossa disposição para enfrentar
os desafios do futuro (cf. Richard Florida, The
rise of the creative class e Who’s
your city?)
Nos limites
deste espaço onde escrevo, resta-me adiantar uma singela proposta que poderá
ser fundamentada por qualquer interessado em ir mais longe nos livros
referidos. Perguntarei, então: por que não reabilitar, mantendo tudo o que for
possível no seu específico tempo histórico, essas ilhas mas com novas
funcionalidades? Poderiam ser afetadas a residências de estudantes – dos
programas de intercambio europeu Erasmus por exemplo e internacional (os
estudantes dos países lusófonos); à instalação de empresas e atividades
artesanais, livrarias, atividades musicais, à publicidade, à arte, ao design, à moda, a antiguidades,
entretenimento, restauração… que sei eu?
Terá chegado o
tempo de voltar aos valores do passado com significado e força no futuro?
Acreditando que
sim, por aqui iremos caminhar.
Sem comentários:
Enviar um comentário