O novo turismo político em vez de
dossiês leva armas e em lugar de diplomatas soldados e mercenários.
Andávamos nós a
tentar perceber esse fenómeno novo ou, pelo menos, renovado do nosso tempo que
parece ser o Turismo de saúde e bem-estar,
também dito Turismo médico, e eis que
uma outra realidade, forte, incontornável, entra pelos nossos olhos dentro: o “Turismo político”. Sim, a moda está aí,
provavelmente para ficar, agora à luz do dia e não já nos escarninhos de
qualquer arrogância imperialista: a Rússia exporta “turistas políticos” para a
Ucrânia. Não me parece, porém, que tenha inovado muito nesse aspeto, apenas
está a demonstrar ser muito competitiva.
O turismo
político há muito está identificado, sendo referenciado a reuniões, regulares
ou isoladas, das classes políticas no âmbito das relações internacionais. As
questões protocolares e de segurança têm, aí, um lugar destacado na análise do
fenómeno. O novo (ou renovado) Turismo político – como Fukuyama se enganou ao
declarar “o fim da História”! – tem outros objetivos políticos e geoestratégicos,
assentando, decisivamente, no ativismo político em alta neste tempo de
vésperas. Em vez de dossiês leva armas, em lugar de diplomatas estão soldados e
mercenários.
Sustentado
formalmente pelas redes sociais e por um sistema mediático globalizado que vive
do espetáculo das revoluções ao vivo, condiciona crescentemente a Política.
Disso nos dão conta os acontecimentos recentes e os processos ainda em curso na
Líbia, no Egipto ou na Síria. Na Ucrânia, o assunto cava mais fundo, mas,
exteriormente, não é muito diferente.
O cinismo é, no
transe, a marca de água ostentada pelos beligerantes reais – não os ativistas
políticos que não passam de lebres, de carne para canhão. Do Ocidente pede-se a
Putin que use a sua influência para que os grupos armados, no terreno, deponham
as armas, como se estas não fossem dele e não estivessem ao serviço dos seus
interesses imperialistas. Putin responde, hipocritamente, que não existe
qualquer ingerência russa na Ucrânia e que tudo não passa de má e insuficiente
informação.
É dramático para
o Ocidente e, sobretudo, para a Europa o que se está a passar na Ucrânia, mas
quem semeia ventos colhe tempestades, como diz o velho ditado. Não foi a mesma
estratégia, na verdade, usada pelo Ocidente em tantas situações, nomeadamente à
volta da queda do “Muro de Berlim” e em várias “guerras por procuração” que
levou – e leva ainda – em diversos países da África?
Há muito tempo
que a Europa não sabe o que quer nem para aonde vai, sobretudo a União
Europeia. Desnorteada, sem fé e sem esperança política, todos os caminhos lhe
servem para, afinal, não sair do que parece ser o seu leito de agonia.
E se os povos da
Ucrânia quiserem mesmo integrar-se na Rússia, tal como outros (Catalunha, País
Basco, Córsega, Escócia, tantos!) quiserem tornar-se independentes dos Estados
que os controlam?
A geopolítica
está de volta, se é que alguma vez esteve ausente. Hoje, porém, com violência
acrescida e com consequências cada vez mais próximas de nós. E o mais grave de
tudo é que já não é comandada pela Política, mas por interesses financeiros,
sem rosto, ao pé dos quais muitos dos políticos que aí andam não passam de seus
meros serventuários.
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