A justiça exige que, antes de dar
ao outro o que é nosso, lhe demos o que é dele.
A edição
especial da revista “Visão”, comemorativa do seu 21º aniversário (nº 1098, 20 a
26 de março de 2014) é relevante a vários títulos e não, apenas, por assinalar
uma data. Além desta marca histórica, com efeito, pode ler-se, também, no seu
conteúdo – nas Entrevistas – o rosto e a alma de uma nação em acentuado declínio,
a agonia de um povo, afinal. E esperança?
Desde logo
revela-se aí, em geral, a inferioridade, o cinismo e o maquiavismo de alguns
dos que detêm as rédeas do poder político. Divagam sobre questões políticas ao
nível dos piores comentadores desportivos que por aí andam (e em que, é claro,
se incluem, ou incluíram). Dizem tudo e deixam em aberto (ou dizem mesmo) o seu
contrário na ânsia de agradar a “gregos e troianos”.
Sem que se lhes
adivinhe um pensamento político minimamente estruturado, o que fica do que
dizem, afinal, é que (com a democracia suspensa) o poder são eles e são eles que
mandam em nós. O medo que se instalou na sociedade – e que promoveram e
cultivam direta ou indiretamente – faz o resto.
Depois estão lá
as palavras de grandes senhores da cultura, da economia e da política, também.
Adivinha-se, nelas, paixão pelo que fazem, além de patriotismo inquestionável mas,
ainda mais, muito desgosto pelo que não lhes é possível em tempo de austeridade
“mata-cavalos”. Mas é inegável que são repositórios vivos de conhecimento,
dramaticamente inaproveitado, marginalizado até, numa sociedade mercantilista,
onde impera o pensamento único e o horror à diversidade. As suas reflexões levam,
porém, à esperança de que uma nova e diferente civilização, numa outra sociedade,
também outro Portugal, será possível. Nada estará, afinal, perdido, como nada
está adquirido pois tudo pode ser (re)conquistado se houver vontade de vencer a
finança totalitária que nos asfixia, na ambição, mais geral, de recriar o nosso
próprio destino em liberdade e com solidariedade e justiça social.
Por fim, pode
colher-se dessa mesma edição, uma mensagem de futuro, numa visão prospetiva, de
que as palavras do Prof. Adriano Moreira são expressão maior: “A única eternidade terrena é a cultura”.
Por tudo o
exposto, ainda que telegraficamente, há-de concluir-se que se trata de um
documento indispensável para ajudar a compreender o nosso estar presente e
entreabrir o futuro na mudança de era em que nos encontramos – não, de facto,
uma simples era de mudança.
Recordo que já antes,
ao passar os olhos pela imprensa internacional no início do corrente ano, o meu
entusiasmo se fixara no Corriere della
Sera cuja primeira página, da primeira edição (digital) do ano titula:
PASSIONI PER IL 2014. A edição era dedicada aos italianos que não se rendem,
mas, bem poderá ler-se nela um desafio que cumpre aos portugueses, também, que
não se rendem, que nunca se renderam, nem renderão. Àqueles que lutam quotidianamente pelo
trabalho – mais criativo, inovador, melhor trabalho (e não mais tempo de
trabalho), trabalho decente, - numa sociedade mais justa e próspera, ainda que
com menos crescimento e menos emprego. Aos que servem, com elevação política e
ética, o interesse coletivo, seja em órgão políticos, seja na administração
pública. Ainda aos empreendedores, sobretudo aos novos e aos jovens empresários.
Que todos tenham
a coragem de assumir os riscos deste novo tempo e que saibam partilhar o fruto
do sucesso atribuindo a cada um aquilo que lhe pertence. A justiça exige que,
antes de dar ao outro o que é nosso, lhe demos o que é dele.
Com paixão,
Portugal também poderá ser esperança!
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