É crucial procurar saber qual é o plano, o projeto em que assenta,
hoje, a construção europeia e se, aí, Portugal tem lugar e que lugar tem.
Entre contradições, egoísmos, crises, avanços e recuos, a Europa continua
presente no nosso quotidiano. A União Europeia não estará morta, na verdade,
não obstante as indefinições de destino que, sempre, de resto, a cunharam, as
instituições imperfeitas que a entorpecem recorrentemente e apesar do pessoal
político medíocre que a serve (ou se serve dela) e o séquito dos eurocratas que
abriga.
Sem relegar para segundo plano a situação crítica presente na qual há,
decerto, indícios de um possível “declínio europeu”, o certo é que, como
processo construtivo, se há-de reconhecer que têm sido dados, mais
recentemente, alguns passos – ainda que insuficientes – para seguir adiante. Ponto
é saber aonde vai e com quem.
O “modelo europeu”, apesar de todas as imperfeições, continua na verdade,
porém, a ser atrativo para muitos povos do mundo, - não se há-de esquecê-lo - e,
logo, pensar o porquê.
Cumpre, no transe, ter ainda presente que as crises que trespassam
atualmente a vida de muitos europeus têm uma causa próxima, forte e exógena, consubstanciável
em factos decorrentes da desregulação do capitalismo financeiro que domina o
mundo neste tempo dito neoliberal. Alguns dos mais recentes e dramáticos
momentos vividos na União Europeia estão intimamente ligados, na verdade, à
“grande crise” do início deste século, vale por dizer a uma ideologia neoliberal
em que prepondera a lógica da concorrência desenfreada entre países, regimes
fiscais e direitos sociais (race to the
bottom). Ora é aqui que assenta a necessidade de repensar um novo “contrato
social europeu”. Que não esqueça os afetos como ponto de partida e a
solidariedade entre todos os seus povos – será possível acontecer um povo
europeu? – como grande objetivo político. Se não se quer uma “europa alemã”,
qual é a que se propõe?
É crucial procurar saber – sobretudo em véspera de eleições para o Parlamento
Europeu – qual é o plano, o projeto em que assenta, hoje, a construção europeia
e se, aí, um país atlântico, periférico, um Estado exíguo e exógeno como
Portugal tem lugar e que lugar tem - à mesa, ou como mero empregado de mesa.
Há que ter a consciência da nossa condição. Após um tempo imperialista,
subsequente às Descobertas, primeiro na Ásia, depois no Brasil e, por fim, em
África, a integração no projeto europeu não tinha alternativa. Portugal entrou
nele, como iniciara, antes, a conquista de novos mundos, ou seja, tendo em
vista alcançar riquezas que não tinha dentro do país. A ideia de consolidar uma
democracia incipiente e frágil, após Abril de 74, também pesou, decerto, na
decisão de aderir à então CEE, sobretudo no seio de diversas, novas, elites
políticas. Nunca, porém, terão sido as causas que mobilizaram os “Pais da
Europa” – a construção de um espaço de paz e bem-estar após sangrentas guerras
mundiais – as que estiveram no cerne da nossa opção europeia.
Vem aí a caça ao voto para o Parlamento Europeu.
Para que servirá o meu voto?
Não – é seguro! – para tomar posições sobre a permanência de Portugal na
União Europeia, ou na “zona euro”; também não para discutir os temas e as
condições da nossa participação na construção europeia e tantas outras questões
a esta inerentes. O meu voto – o nosso voto – apenas valerá para levar alguns
privilegiados das nomenclaturas partidárias a viver em Bruxelas e em Estrasburgo
um tempo dourado. Como sempre tem acontecido. Desgraçadamente.
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