Não é justo pedir mais produtividade a quem
trabalha com a barriga vazia,
ou na penúria de vidas sofridas à margem da
dignidade humana.
Contrariando aquela impensada tese (… ou muito bem pensada!) e sob a forma simples de pergunta, questionaria, no transe, a razão pela qual os trabalhadores portugueses, no contexto de empresas estrangeiras, deslocados ou não, são inequivocamente reconhecidos como dos melhores; fazem coisas iguais ou melhores e mais depressa que os alemães ou os ingleses. É mentira?
E, sendo, creio, também, pertinente, perguntaria, ainda, se a falta de produtividade dos trabalhadores portugueses e, de competitividade da economia portuguesa não têm, decisivamente, a ver ou com alguns “patos bravos” que se auto elegeram empresários, ou com empregadores de fato às riscas (última moda), corte italiano, mas incapazes, impreparados e, até, corruptos, que leis iníquas e desajustadas à realidade deste tempo permitem que andem por aí a gozar connosco e com os dinheiros públicos de mil subsídios do empreendedorismo às exportações, à compra de maquinaria…
Não é justo pedir mais produtividade a quem trabalha com a barriga vazia, ou na penúria de vidas sofridas à margem da dignidade humana. A quem dedica tanto tempo ao trabalho como ao tempo que passa em transportes para lá chegar; a quem vive a precaridade dos contratos laborais no medo que suga a vida às suas vidas; a quem, depois de anos de trabalho sob, por vezes, riscos psico-sociais indizíveis, não sabe se terá possibilidades de “pagar” uma morte tranquila, ao abrigo de uma pensão decente.
Produzir cada vez mais, muito bem.
Competir com todos e em tudo, claro.
Mas para quê? Para quem?
Eu só queria entender, mas confesso que estou cada vez mais perplexo ao ver que os grandes títulos da comunicação social, as primeiras filas, as comendas presidenciais, estão, afinal, do lado que mais explora o trabalho e o trabalhador… e guarda depois, a sete chaves, em paraísos fiscais, o sangue que jorra de um trabalho (nem sempre, é verdade) penoso e mal pago.
Há quem não tenha o direito de pedir mais produtividade a muitos que já só tem um resto de vida, precária, plena de sofrimento para dar.
E por aqui me fico, hoje.
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