O Doutor Albino Aroso
foi, na liquidez absurda deste tempo crísico, um verdadeiro “Príncipe do
Renascimento”.
Nos fins do
outono começaram a cair as folhas das árvores, mas estas ficam lá. Ficam e,
chegada a primavera, novas, outras folhas acontecem-lhes.
Ainda não compreendi
porque é que a Natureza, por razões até de economia, não conserva as velhas
folhas e, ao contrário, se dá ao “luxo”, que um tempo de austeridade deveria rejeitar,
de exibir outras. Outras?
Caíram tantas
folhas este ano!
Umas caíram das
árvores do meu quintal para o qual dá uma janela feita de perguntas fortes e
respostas frágeis; outras dos quintais dos meus amigos e vizinhos; outras de
sítios improváveis.
Não irei
celebrar a primavera que há-de vir sem lembrar o Senhor Doutor Albino Aroso que
viajou para o longe sem distância. Ele, foi, na liquidez absurda deste tempo
crísico, um verdadeiro “Príncipe do Renascimento”.
Muitos anos
atrás, ainda a liberdade era um mero possível, ouvi-o dela falar numa
conferência que teve lugar na Torre da Marca, ali junto ao Palácio de Cristal.
Com ele, na mesma mesa, brilhava a vivacidade de Francisco Sá Carneiro e a sabedoria
de Armando de Castro, democratas de longa data. Das suas palavras irradiavam
luminosas perspetivas de um outro viver mais humano e feliz. Falaram também da
primavera, nessa altura, claro.
Anos passados,
procurei-o um dia por razões partidárias – era uma referência incontornável da
social democracia autentica – para o desafiar a assumir o cargo de presidente
da mesa da Assembleia Distrital do Porto do PSD numa lista em que me apresentava
como candidato à presidência da respetiva Comissão Política. Eu precisava de ir
com os Grandes, para parecer grande como eles… Aceitou com imensa generosidade
e lutámos (sem sucesso) pela mudança que, acreditamos, era urgente já então e,
hoje, é dramaticamente ainda mais urgente.
A última vez que
respeitosamente o cumprimentei foi, recentemente, na barbearia onde o Sr. Silva
cultiva ainda o prazer de uma conversa com os clientes, que, mais do que isso,
são amigos da casa. Altivo, esbelto nos seus noventa anos, todos o rodeámos de
carinho enquanto ele deixava uma palavra de confiança na vida a pairar. Como
era querido e respeitado por todos naquela casa!
Neste dia em que
lhe deixei um aceno junto à barca da viagem, ouvi e li muitas palavras bonitas
a seu respeito. Congratulo-me, decerto, pelo reconhecimento que lhe é
unanimemente, concedido mas o que, julgo, verdadeiramente é importante é o que
Albino Aroso pensou e executou para que o seu próximo tivesse mais bem estar físico, moral e espiritual. A sua
vida e obra falava de dentro dos escaminhos de tantas pessoas, que seria inútil
tentar verbalizar, aqui, o mar de gratidão que lhe tributamos.
O mundo hoje é
outro, muito diferente daquele em que a sua ação politica, cívica e
profissional estabeleceu os pilares de uma sociedade melhor. Portugal também
mudou – e esse foi um dos seus combates primordiais.
Honrar Albino
Aroso doravante será não deixar a luta pelos ideais que foram os seus.
Ponto é que haja
pessoas da sua grandeza.
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