A política é, também, a luta de memória
contra o esquecimento.
No próximo dia 25 de novembro muitos
portugueses vão reunir-se para o homenagear.
Não poderemos ignorar.
Num mundo
angustiado e à deriva, há que reconhecer que as ciências que se ocupam do Homem
têm feito progressos notáveis, mas, que, acerca de nós próprios, pouco ou nada
sabemos. “A ciência do homem é a mais difícil de todas as ciências” (Alexis
Carrel, O Homem, esse desconhecido, cap. I, 3).
Em Portugal, em
pouco mais de uma geração, o nosso ambiente intelectual e moral mudou
radicalmente, mas o homem, não. O progresso material, a riqueza e o bem estar
relativos que se sucederam à Revolução de Abril, levaram iniludivelmente à
desconsideração de muitos valores éticos e morais. Não mais se construíram Caravelas
para descobrir mundos, nem se levantaram Templos para olhar mais além, e, ao
contrário, deixamo-nos embriagar pelo perfume das novas catedrais do consumo,
imediato e a crédito. Sabemos o preço de tudo, mas não sabemos o valor de nada.
O Armagedão está
à porta quando os sonhos de novas primaveras são, ainda, tão recentes!
Um grupo de
bravos portugueses, com memória, resolveu prestar homenagem a um homem que, um
dia, se levantou contra movimentos liberticidas num tempo em que Portugal vivia,
também, angustiado e à deriva. Esse Homem é o General António Ramalho Eanes.
Há que lutar
contra o esquecimento e recordar essa data e aquele português. Cada dia que
passa é mais tarde para o fazer, mais fundo o medo, mais ténues as forças.
Não sei – nunca
soube (e fui seu mandatário para a juventude, em Coimbra, nas eleições de 1976)
– se é de direita ou de esquerda. Mesmo que esta categorização ainda valha
alguma coisa, tenho por certo que ele está do outro lado das coisas. Mas sei –
todos sabemos – que não foi acionista do BPN, recusou ser promovido a marechal,
rejeitou benesses financeiras (que os tribunais confirmaram que eram direitos
seus) e nunca se “enganou” nas declarações prestadas às autoridades do país. Haverá
quem possa dizer mais a propósito mas, num tempo de servidão, guarda-se de Conrado
o prudente silêncio…
A política é,
também, a luta de memória contra o esquecimento.
Recorrendo a
velhos arquivos, encontrei no nº 2 (6
a 13 de maio de 1976) da revista OPÇÃO um editorial de
Artur Portela Filho (p. 15) que já então enunciava o que se confirmou, depois,
e que aqui queria sublinhar: “Porque
Eanes não é um presidente cómodo, fácil e emotivo “ (…) ”Eanes é outra incursão da moral na política”
(…) “É certo que Eanes tem, da
democracia, a teima, a firmeza, o rigor”.
Como estas
palavras soam no limiar da nossa inquietação atual!
No próximo dia
25 de novembro muitos portugueses vão reunir-se para o homenagear – “Como reconhecimento moral e cívico dos altos
serviços que prestou, e continua a prestar à Pátria de todos nós, através da
postura de grande lucidez que continua a revelar perante os graves problemas
com que o nosso país se confronta, e como apelo às novas gerações que são o
nosso futuro” (do texto que anuncia o evento).
Não poderemos
ignorar.
Lá estaremos!
[Quem se quiser
inscrever na Comissão Cívica Pública deve fazê-lo para o site: www.testemunhopublico.pt]
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