A ética no trabalho e o trabalho ético não são palavras
vãs, a não ser que estejemos a falar de robots.
A liberdade sem igualdade é uma mentira, também no âmbito da comunicação
social.
Num Estado democrático a imprensa livre é um bem essencial. O direito de
informar e o de ser informado implica por seu turno a liberdade de expressão
enquanto base de formação da opinião pública democrática que tem, de resto,
assento constitucional.
Surgem aqui, porém, perplexidades e fragilidades que não se poderão
escamotear. A que mais me incomoda é a que advém de, encavalitados nos poleiros
da comunicação social, alguns “gurus” nos ditarem o que devemos entender do
mundo. Fazem-no, quase sempre, longe do contraditório de opiniões diferentes e
com argumentos que deixam, geralmente, muito a desejar. É uma forma de instilar
nos cidadãos o pensamento único que, à falta de igualdade de armas
relativamente a quem os lê ou escuta, passa a ser também a verdade única, que
nos subjuga muitas vezes.
Tal acontece com comentários, editoriais e pronunciamentos equivalentes
que, utilizando os mais subtis instrumentos de propaganda pura e dura, nos
tiram a dignidade do pensamento. Quem ignora que, à 2ª feira, as discussões de
café ou barbeiro sobre política não passam de uma reprodução impensada do que
alega, pro domo sua, Marcelo, na
televisão, no domingo à noite? Há, também, que relevar certas colunas de
jornais, pomposamente situadas nas suas páginas nobres que expressam opiniões
em formas que simulam a última ideia, a análise mais profunda, o último grito
da doutrina política, mas que, afinal, não passam de opiniões (por vezes
paupérrimas) ou de suporte à voz do dono. Parecem, contudo, a verdade revelada
ao jornalista ou comentador para ser propagado aos infiéis ou reconfortar os
indecisos.
Vem isto a propósito da “importante” coluna que o diretor do “Sol”
preenche todas as semanas em página nobre do seu jornal. Quando vêm de ser
publicadas dramáticas normas jurídico-laborais que vão trazer aos trabalhadores
mais insegurança e pobreza escrevia ele, na edição de 22 de junho de 2012, a propósito da baixa
de salários avançada pelo Prof. António Borges: “Tal como sucede com o preço do leite ou das laranjas: quando há
excedente no mercado, o preço baixa. (…) A questão não é ideológica nem moral, e explica-se de um modo muito
simples: ou aquilo que produzimos é competitivo, e tem sucesso no mercado, ou
não é – e os produtos não se vendem, e as fábricas fecham”.
Um pouco mais de reflexão e de estudo – sim, estudo – teriam certamente
levado ao conhecimento desse senhor alguns textos fundadores e fundamentais, aceites
universalmente, que exprimem princípios básicos relativamente ao trabalho: a paz duradoura não pode
ser alcançada a menos que seja baseada na justiça social, fundada na dignidade,
segurança económica e igualdade oportunidade; o trabalho não deve ser encarado
meramente como uma mercadoria, deve haver liberdade de associação, tanto para
trabalhadores como para empregadores, juntamente com liberdade de expressão, e
o direito à negociação coletiva (cfr. a Declaração de Filadelfia de 1944,
posteriormente integrada na Constituição da O.I.T.).
O trabalho
humano é igual ao leite ou às laranjas?
A questão não é
ideológica, nem moral?
Peço desculpa
mas isto já não se diz impunente, sequer, num pasquim de extrema direita.
O mercado de
trabalho não é um mercado como outro qualquer, pelo que não poderá seguir as
regras de outros mercados face à dependência pessoal do trabalhador. E assim, a
luta pela dignidade humana e pelo trabalho decente é um dos grandes objetivos
do Direito do trabalho.
A ética no
trabalho e o trabalho ético não são palavrs vãs, a não ser que estejemos a
falar de robots.
Quantas mentes
terão ficado “enlatadas” nesse discurso retrogado de um jornalista que não tem
o direito à irresponsabilidade? Aqui fica a minha profunda indignação ainda que
usando meios insignificantes relativamente aos que ele usou.
Cuidado. Nem
tudo o que luz é oiro.